Empresário bem sucedido e dono de uma fortuna de US$ 1,3 bilhão (R$ 4,1 bilhões), Flávio Rocha não teme ser rotulado como representante da direita. Pelo contrário. A bordo de um jatinho particular, ele acredita estar em sintonia com o espírito do tempo, que exige um Estado mínimo e práticas mais próximas das conservadoras, em contraposição ao marxismo cultural e ao politicamente correto impostos por setores da esquerda. Munido dessa convicção, Rocha tem rodado o País para divulgar suas ideias “liberais na economia e de direita nos costumes”, como ele mesmo define, no contexto de um projeto que pretende influir nas eleições presidenciais deste ano, o chamado “Brasil 200”. Ele assegura que não é candidato ao Planalto, ao menos agora, mas é evidente que, se suas propostas ganharem aderência, esse pode se tornar um caminho natural. Em entrevista à ISTOÉ, Rocha, que não é filiado a nenhum partido político, reconheceu que enxerga o movimento Brasil 200 como o embrião de uma futura candidatura. Em 2022. “Até lá já estarei com 65 anos, aposentado da Riachuelo, e com mais tempo para tocar uma campanha. O Fernando Henrique Cardoso até colocou meu nome e fui citado entre três outsiders que podem surgir como presidenciáveis para este ano. Mas, se eu for candidato agora, isso vai inviabilizar o Brasil 200”, pondera.

O programa empunhado por ele objetiva lembrar que embora, daqui a quatro anos, o País vá comemorar o segundo centenário da libertação da coroa portuguesa, ainda não conseguimos nos libertar da exploração de um Estado perdulário que cada vez arrecada mais impostos para manter uma máquina pública inchada e ineficiente. Para escapar desse ciclo vicioso, o movimento prega a privatização de todas as estatais, incluindo a Petrobras e os bancos públicos (BB e CEF), a manutenção de um estado mínimo, com uma estrutura mais fácil de carregar e uma carga tributária de país emergente (15% contra os atuais 37% do PIB). Para ele, “98% da população puxa a carruagem que transporta os 2% dos burocratas que sugam a riqueza produzida pelo País”.

“Precisamos de um candidato que defenda o livre mercado e que seja conservador nos costumes” Flávio Rocha, presidente da Riachuelo

Os pilares do projeto, semelhante a um programa de governo, foram lançados na quarta-feira 21, em Natal, para uma platéia de 1.500 pessoas. “O Brasil não precisa de um candidato da esquerda e nem de centro. A esquerda petista destruiu o País e estava nos levando ao modelo venezuelano. O centro tem propostas liberais para a economia, mas tem visão de esquerda nos costumes, como a liberalidade em matéria de gênero. Precisamos de alguém da direita democrática, que defenda o livre mercado e que seja conservador nos costumes”, disse, em discurso, Flávio Rocha, que é evangélico fervoroso e também defende que se “arme a população para enfrentar os bandidos”. Responsável pela manutenção de 40 mil empregos em suas empresas, Flávio Rocha diz que o candidato a presidente que hoje mais se aproxima do que ele pensa para o País é o deputado Jair Bolsonaro. Mas faz uma ressalva: “Ele é tão estatizante quando o PT. Os militares foram altamente estatizantes e eu defendo o inverso: que o Estado cumpra o papel mínimo, deixando que o mercado regulamente a sociedade”, afirmou. O empresário confirmou as sondagens para que fosse vice na chapa de Bolsonaro, mas as conversas não evoluíram.

Uma história de horror

Apesar de ser encarado como um outsider na política, Flávio Rocha não é um neófito. Foi deputado federal duas vezes. Uma delas em 1988, quando foi deputado constituinte, pelo PFL. Pelo Partido Liberal (PL), chegou a ser candidato a presidente da República em 1994, mas abriu mão da aspiração para apoiar Fernando Henrique Cardoso. Não repetiria a dose. O empresário diz que resolveu levar adiante um projeto próprio de País porque atingiu “o limite da indignação”. “O Brasil é o 153º País em competitividade. Estamos ao lado de países como a Coréia do Norte, Venezuela e Sudão. Somos hostis ao capital. Aqui, temos a gasolina, o Iphone e o Big Mac mais caros do mundo”. Ele explica que a gota d’água de sua irritação com a burocracia estatal brasileira foi a “história de horrores” em que se transformou a implantação de seu projeto Pro-Sertão, em Seridó, interior do Rio Grande do Norte. A meta era a de implantar 300 pequenas fábricas de costura no interior do Estado, cada uma empregando em torno de 70 costureiras. “Era para ser a redenção do sertão nordestino, mas quando atingimos a marca de 70 fábricas, o Ministério Público do Trabalho mandou parar o projeto. Milhares de costureiras estão desempregadas e voltaram para a miséria. A burocracia destruiu meu sonho de desenvolver o sertão”, desabafa o empresário. Agora, ele trabalha para mudar essa realidade. Candidato ou não.

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Uma nova carta no jogo

Flávio Rocha, de 60 anos, nasceu em Pernambuco, mas logo se mudou com os pais para Natal, onde a família construiu um império ligado à indústria têxtil
Aos oito anos, foi para São Paulo, onde estudou e formou-se em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas
Estruturou a Riachuelo, a terceira maior empresa de moda do País, com 300 lojas e 40 mil funcionários. A empresa tem receita bruta de R$ 8 bilhões por ano
Já foi deputado federal duas vezes, inclusive na Constituinte de 1988, e pré-candidato a presidente em 1994 pelo PL
Atualmente dissemina pelo País as ideias do projeto Brasil 200, que se assemelha a uma plataforma de governo

 


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