É difícil olhar para trás e reconhecer aquele homem. Em 2014, aos 56 anos, eu pesava 140 kg e recebi um diagnóstico brutal: a sombra de um possível infarto pairava sobre mim. A saúde havia cobrado o preço de uma vida de maus hábitos e sedentarismo. Minha vida estava em risco. Hoje, aos 68, sou o que a maioria jamais pensou que eu seria: um maratonista.
O início não tinha nada a ver com a corrida. Foi uma luta desesperada por sobrevivência. Procurei um time de profissionais (nutricionista, cardiologista, fisioterapeuta e personal trainer) e iniciei um processo rigoroso para perder peso. A cada mês, dois quilos se iam, fruto de disciplina inabalável, sem cirurgia bariátrica ou métodos austeros. Em 2018, cheguei aos 80 kg, 60 quilos mais leve e com indicadores médicos que deixaram de ser desastrosos.
Foi em 2015 que uma personal (Larissa), me deu a chave para uma nova porta. Ela me incentivou: “Ao colocar um tênis, short e uma camiseta, você pode fazer uma atividade em qualquer lugar do planeta.” Ainda com 130 kg, as primeiras tentativas foram penosas. Em minha primeira prova de 5 km, levei 1 hora e 15 minutos. Mas a chama havia acendido.
A evolução foi surpreendente. Em 2017, completei os mesmos 5 km em 26 minutos e os 10 km em 56 minutos. O que começou como uma necessidade de saúde virou uma paixão desafiadora. A busca por ir além me levou a distâncias maiores: 7 km, 10 km, 15 km, 16 km, e em 2017, minhas primeiras duas meias maratonas (21 km).
Em 2018, o sonho se tornou ainda mais alto. Bem preparado, completei minha primeira maratona (42 km) em São Paulo, em maio. Em novembro do mesmo ano, sob orientação de um treinador (o Matheus), vivi uma experiência inesquecível em Nova York, enfrentando o frio de 3 graus para cruzar mais uma linha de chegada.
A verdade é que a corrida me ensinou o que é viver de verdade. Através dela, pude realizar mais de 100 provas oficiais nestes 11 anos, conhecendo países, pessoas e, mais importante, incentivando vidas. O Ibirapuera se tornou minha segunda casa, e o som da batida dos tênis no solo é algo que só Deus ajuda a explicar.
Eu nunca poderia imaginar que a combinação de perda de peso e corrida transformaria minha vida. Lembro que em 2017 precisei colocar um stent devido a uma veia coronária entupida em 85%, e até precisei retirar uma bolsa de gordura de 5 kg. Mas a cada ano, os indicadores médicos se tornaram melhores, e minha vida esportiva só cresceu, mantida pela disciplina de acordar às 5 da manhã e dormir cedo. Hoje, sou um colecionador de vitórias: 6 maratonas (42 km) e 27 meias maratonas (21 km), incluindo provas de alta qualidade como Nova York, São Paulo, Florianópolis, Rio do Rastro, Berlim e Buenos Aires.
Emocionalmente, voltei para a vida. Ser chamado de maratonista, pertencente a menos de 1% da população mundial que realizou este feito, é inexplicável. A emoção de uma largada em grandes maratonas, com tanto choro e a consciência dos meses de dedicação, me levam a um sentimento de gratidão profunda.
Aos 68 anos, corro por prazer e alegria, sem me importar com o tempo. O que importa é estar ali, ser feliz e, no final, ganhar a medalha e a banana. Minha maior alegria, porém, é ser inspiração. Corredores me param nas provas para dizer que começaram a correr por minha causa. É uma gratidão que me faz chorar. Sinto-me um vencedor por ter na corrida o suporte para viver de forma saudável e propagar essa experiência.
Para quem quer começar, o meu conselho é simples: caminhe, trote e comece a correr. Não tenha vergonha da distância, apenas inicie. Não olhe para trás. O processo é como o de um recém-nascido que aprende a ficar de pé e a andar. Dê o primeiro passo e sua vida nunca mais será sedentária.
A linha de chegada será todos os dias: como ser humano, profissional, família e atleta. Sinta a intensidade da vida, acorde para as provas, viva intensamente as chegadas e descubra o amor incondicional que a corrida pode te dar.
Mário Alberto Constanski, 68, é economista formado pela PUC-SP, com MBA em gestão empresarial pela FGV-RJ, ocupa o cargo de gerente do Departamento de Integração Regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e é maratonista por hobby