Bruce Conner – It’sAllTrue/ Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha/ até 22/5

Poucos artistas reúnem tantas competências em seu trabalho como Bruce Conner (1933-2008). Prova disto é que a organização da primeira retrospectiva jamais realizada sobre sua obra reuniu diversos curadores dos departamentos de pintura, escultura, “media arts” e performance do MoMA-NY e do San Francisco Museum of Modern Art. Atualmente em Madri, Espanha, a mostra “Bruce Conner — It’s All True” passou por Nova York e São Francisco provocando comoção.

“Um dos mais importantes artistas do pós-guerra, que você provavelmente nunca ouviu falar”, disse o “Time Out” de Nova York; “A escuridão que desafia a autoridade”, estampou o jornal “New York Times”. Lamentavelmente, Conner faleceu antes de ser revelado como “um dos mais proeminentes artistas da segunda metade do século 20”, como afiram os curadores. A “descoberta” vem a reboque do reconhecimento tardio de artistas marginalizados às narrativas oficiais da história da arte.

Frame de “A Movie”, de 1958)
Frame de “A Movie”, de 1958

Conner viveu e trabalhou em São Francisco, entre os anos 1950 e 2000, sem chegar a ser “categorizado” como beat, pop ou conceitual. Embora seu DNA contenha elementos de todas essas vertentes, ele foi inicialmente reconhecido como cineasta experimental. Mas a variedade e imprevisibilidade de sua produção levou-o a ser relegado ao vasto e obscuro campo da contracultura. O dado surpreendente sobre sua obra começa pelo fato de os cerca de 300 trabalhos expostos serem realizados em mais de dez diferentes técnicas e mídias. O resultado são peças híbridas e indefiníveis, a meio caminho entre a pintura e a escultura; o filme, a fotografia e a performance; o desenho, a colagem e a gravura.

Se alguma constância pode ser extraída de seu método de trabalho, ela se mostra na colagem de materiais descartados da cultura de consumo. Seus filmes são montagens engenhosas de “found footage” das mais diversas procedências, como o primoroso “Report” (1963-1967), iniciado logo após o assassinato de Kennedy. Mas o artista também realizava suas próprias filmagens em 16 mm, como “Looking for Mushrooms” (1959-1967), realizado durante uma viagem psicodélica no México, em companhia de Thimothy Leary, escritor e neurocientista que advogava pelos benefícios do LSD.

Amigo de outro “easyrider”, o ator Dennis Hopper, Conner propôs em 1967 ao galerista James Willis realizar uma exposição de suas colagens com gravuras antigas sob o título de “The Dennis Hopper One-Man Show”. A proposta não foi aceita e o álbum completo atribuído ao ator é mostrado pela primeira vez nesta retrospectiva.Hoje reconhece-se que a rejeição de galerias comerciais ao seu estilo anárquico (trabalhou como fotografo da cena punk de São Francisco no final dos anos 1970) acabou por lhe garantir a liberdade e originalidade de uma obra fora dos padrões. A violência exaltada na cultura americana, a objetificação da mulher e o holocausto nuclear estão entre os temas que fazem de sua obra visionária e atemporal.

ROTEIROS
O retratista dos brasileiros

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Assis Horta: Retratos/ Espaço Cultural BNDES, Rio de Janeiro/ 15/3 a 5/5

Em 1° de maio de 1943, com a publicação do Decreto Lei que criou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), milhares de brasileiros precisaram ser retratados para a emissão de um documento antes inédito: a carteira profissional. Para muitos deles, aquele seria seu primeiro contato com uma câmera fotográfica. Entre os fotógrafos que se dedicaram a retratar aquelas pessoas estava o mineiro Assis Horta, que completou 99 aos na quarta-feira 28 de fevereiro. O imenso material produzido por ele em décadas de trabalho rendeu a exposição “Assis Horta: a democratização do retrato fotográfico através da CLT”, projeto vencedor do XII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte.

A partir da próxima semana, um desdobramento daquela exposição chega ao Rio de Janeiro na mostra “Assis Horta: Retratos”, que reúne 200 fotografias em preto e branco em diversos formatos. O material está dividido em três módulos: o primeiro, com retratos 3×4; o segundo, dedicado ao retrato como gênero artístico; e o terceiro com imagens de trabalhadores no estúdio fotográfico de Assis Horta. A mostra conta ainda com uma parte interativa, em que o visitante pode fazer seu próprio retrato (ou selfie) nos mesmos moldes em que Assis Horta trabalhava. Vitrines com câmeras, rolos de filme e outros materiais reproduzem o estúdio original do fotógrafo, em Diamantina (MG), onde ele atuou até a década de 1970. (Celso Masson)