Dia sim, dia não, o Brasil leva pancada na imprensa internacional. E nem poderia ser diferente. Com as barbaridades sociais que todos conhecemos, estranho seria se nos elogiassem. E ainda mais agora, que o vandalismo e um golpismo sem rebuços vieram se somar a todas as verdades que o mundo de nós.
Mas o que eles lá fora dizem não chega nem à metade do que nós mesmos deveríamos dizer de nós.

Menciono dois pontos. Somos um País que não se enxerga. Se você está fazendo algo que manifestamente não dá certo, o que deveria fazer? Experimentar outro caminho, não? Isso sabemos desde os mais remotos tempos da filosofia grega. Mas nós, cabeçudos como somos, temos, ao que parece um gosto perverso pela insistência no erro. Cerca de noventa anos, desde a Revolução de Trinta, enfiamos na cabeça que o crescimento econômico e o bem-estar só podem ser alcançados pela ação do Estado, investindo recursos que não possuímos, recorrendo ao endividamento (lembram-se do general Geisel?) e à inflação. Conversa vai, conversa vem, solavancos e mais solavancos, e vejam o programa econômico do presidente Lula: privatização, nem pensar; fortalecer o setor privado, nem pensar, e ainda mais com capital estrangeiro. Um programa educacional revolucionário? Conversa para boi dormir.

Não apenas os gringos; nós também nos vemos como um País sem autoestima e que, por isso mesmo, não empreende

Mas há um segundo ponto. Não só os gringos, mas nós também, nos vemos como um País vira-lata, sem autoestima, e que por isso mesmo não empreende, não se atreve a olhar mais longe. Ultimamente, com essa nova moda do “identitarismo”, o mundo subiu o tom em vários decibéis. Mas o “identitarismo” é real. Decretaram que somos o País mais violento. O mais machista. O mais racista. E aqui chegamos à outra peculiaridade brasileira. Nunca revidamos. Aceitamos a condição de vira-lata e fica por isso mesmo.
Ora, que tal uma vista d’olhos sobre um dos países mais civilizados do mundo, sim, ele, os Estados Unidos. Não vou falar de violência contra negros, porque isso é chover no molhado. Semanas atrás um policial matou um manifestante negro sufocando com sua bota durante 8 minutos. Em meados do século passado – por razões diferentes, é claro -, mataram John Kennedy, Robert Kennedy e Martin Luther King, este por razões claramente racistas, uma vez que ele era ninguém menos que o líder inconteste do movimento dos “civil rights”. Noves fora, caro leitor, somos um País horroroso do ponto de vista social, mas somos muito piores que isso: somos um vira-lata ao quadrado. Um vira-lata que se comporta como vira-lata e acha graça.