14/01/2019 - 9:59
Durante a Segunda Guerra Mundial, Wojciech Narebski e outros soldados da 22ª companhia de artilharia polonesa tinham de transportar pesadas caixas de munição. Felizmente, um deles, o cabo Wojtek, era muito forte… uma vez que era um urso pardo da Síria.
“Quando ele viu que era difícil para nós levantar as caixas, quis nos ajudar. Ele se aproximou, pegou uma caixa e levou para o caminhão”, conta à AFP Narebski, de 93 anos.
“É claro que ele recebeu sua recompensa: mel e geleia, seus doces favoritos”, lembra o veterano, que passou dois anos e meio com o amistoso animal, que para ele era “como um irmão”.
O urso Wojtek, de 1,80 m e 220 quilos, também gostava de beber cerveja e fumar (ou melhor, comer) cigarros, tomar banho, acariciar seu dono e lutar de maneira amigável contra outros soldados. Quando seu adversário perdia, ele lambia o rosto como pedido de desculpas.
Agora, um filme de animação contará a incrível história deste urso órfão resgatado no Irã pelo exército de Anders. Transformado em mascote, acompanhou os soldados da URSS em sua jornada através do Iraque, Síria, Palestina, Egito, Itália e Escócia.
A coprodução anglo-polonesa “A Bear named Wojtek” (“Um Urso chamado Wojtek”) chegará aos cinemas em 2020, por ocasião do 75º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.
O produtor britânico Iain Harvey se mostrou cético quando o diretor de cinema de animação escocês Iain Gardner apresentou o projeto.
“Na verdade, no começo eu pensei que o cara tinha bebido muito uísque”, lembra o produtor. Mas depois entendeu que, “pela primeira vez, a realidade é que era mágica”.
– Um verdadeiro conto de fadas –
“Quando você descobre uma história que parece um conto de fadas, mas que é real, bem documentada e verdadeira, acho que gera ainda mais emoções”, diz à AFP.
Mas nem tudo é verdade nesta história. Wojtek provavelmente não visitou as esfinges do Egito, os nazistas não o identificaram, não o fizeram de alvo, nem bombardearam suas posições…
O que é certo é que o animal foi um verdadeiro soldado. Recebia um salário, rações alimentares e subia de patente, alcançando o status oficial necessário para montar a bordo do navio que o levou com os soldados da 22ª companhia do Egito para a Itália.
“As autoridades portuárias estão rigorosas a respeito do urso e do macaco”, contou um soldado em uma crônica da 22ª companhia em 1944. “As autoridades portuárias só permitiram que os animais subissem a bordo, após uma intervenção do alto comando britânico no Cairo”, completou.
Havia também um macaco e centenas de animais de estimação durante a guerra, conta Krystyna Ivell, uma refugiada de guerra polonesa residente no Reino Unido, que, na época, tinha um camaleão.
“Quando você não tem mãe, irmã, ou pai, e está totalmente sozinho, você pode morrer, então é claro, procura algo em que possa se apegar”, explica esta mulher de 83 anos, que preparou uma exposição em Londres sobre a história do cabo Wojtek.
– ‘Um soldado polonês’ –
O que diferenciava Wojtek, segundo Narebski — que compartilhava o primeiro nome com o urso — é que ele acredita ser um humano.
“Este urso passou toda a sua vida entre homens”, conta Narebski, que era chamado de “o pequeno Wojtek”, em oposição ao urso, “o grande Wojtek”.
Ele recorda uma vez que, na costa adriática italiana, o urso conseguiu escapar e saiu correndo para a água, assustando todos os banhistas na praia.
“Ele nem olhou para eles. Fazia calor e ele nadou um pouco, sacudiu-se e voltou para nós”, conta.
Após a guerra, Wojtek foi levado para um zoológico de Edimburgo onde morreu com 21 anos, em 1963.
Na ocasião, a BBC anunciou, “com pesar, a morte de um famoso soldado polonês”.