O estudante Vinícius Gageiro Marques, de 16 anos, avisou a família que iria receber colegas em um churrasco que em sua casa em Porto Alegre no dia 26 de julho de 2006. Felizes com o gesto sociável do menino, sempre trancado no quarto desenhando e compondo canções em inglês no computador, eles permaneceram fora de casa.

Foi assim que, sem a vigilância dos pais, Vinicius ligou o computador, acessou o MSN Messenger e se matou, depois de consultar um fórum sobre técnicas de suicídio. Seguindo a dica dos participantes, sufocou-se com aquecedores a gás. Deixou no disco rígido centenas de horas de canções e sons experimentais, bem como animações e desenhos animados. Assinou esses trabalhos como Yonlu. O filme “Yonlu”, dirigido por Hique Montanari, apresenta uma versão poética daquele que é considerado o primeiro crime cibernético ocorrido no Brasil. O papel principal é vivido pelo ator gaúcho Thalles Cabral, de 24 anos. “Foi um desafio interpretar uma pessoa tão introspectiva”, diz Thalles. Montanari quer que o filme seja discutido por famílias com adolescentes depressivos. “O filme tem poesia e um comprometimento com o tema”, diz o diretor.

Filme usa documentos do jovem

O diretor se inspirou nos personagens e nas canções de Yonlu para criar a visualidade e a trilha sonora do filme. Para obter acesso ao espólio, fez um acordo com os pais do jovem. “Assumi um compromisso de não invadir a privacidade da família”, afirma. Ele levou gravações para o ator Thalles Cabral recriar o peculiar sotaque em inglês, além de cantar e tocar ao violão as músicas do artista. Yonlu organizou um álbum de canções que foi lançado em 2009 pelo selo Luaka Bop de David Byrne.