Dia desses bati os olhos em um texto da revista New York cujo título me fez arrepiar os pelos da nuca: “Democracies and when they are too democratic”, de Andrew Sullivan. Fundamentalmente, o autor sentencia que a democracia plena é um perigo em si mesma. Argumenta ele que, quando todos podem dizer o que pensam e pleitear o que desejam, a sociedade mergulha em um estado de paralisia ideal para o surgimento de tiranos e demagogos dispostos a contornar o sistema.

A Venezuela chavista talvez seja o exemplo contemporâneo mais gritante. Tanto na América Latina quanto ao redor do globo, porém, não faltam casos de abusos por parte do Executivo em nome de um suposto bem maior. Nesse sentido, até mesmo nos EUA, de Guantanamo para cá, e agora com Donald Trump tentando forçar leis anti-imigratórias, é possível observar situações preocupantes.

Deveríamos nos forçar a fazer a pergunta que realmente interessa: se a insatisfação com nossos representantes não vem de agora, por qual motivo ainda apostamos em um modelo de governo fadado ao fracasso?

É óbvio que discutir alternativas à democracia não vem ao caso. Seja por meio de ditaduras comunistas ou militares, passando por aventuras socialistas – quando assim ocorreu o homem apenas encontrou morte, miséria e autoritarismo. Nada disso, entretanto, impede o seu aprimoramento.

Por aqui, tal debate, inevitável e de todo modo já atrasado, poderia muito bem começar pelo questionamento desse presidencialismo de coalizão que apenas serve para institucionalizar negociatas em troca de apoio parlamentar. Ou então, quem sabe, enfrentando de uma vez a imposição do voto obrigatório em um País com milhões de analfabetos, cuja elite pensante permanece indiferente a sua responsabilidade de liderar o País.

Olhando por cima, tanto a repulsa à Lula, quanto o desgosto por Temer, assim como as fobias provocadas pelos tucanos e o radicalismo sugerido por psolistas, podem nos levar à enganosa sensação de que jamais houve uma crise político-institucional tão grave.

Quando, no fundo, deveríamos nos forçar a fazer a pergunta que realmente interessa: se a insatisfação com nossos representantes não vem de agora, por qual motivo ainda apostamos em um modelo de governo fadado ao fracasso?

É aquela velha história, o sujeito pode até demorar a encarar suas próprias mazelas, mas é prudente não imaginar que elas se resolverão sozinhas.