Um senador americano com o coração dividido entre Washington e Gotham City

Um senador americano com o coração dividido entre Washington e Gotham City

Patrick Leahy, o decano do Senado de Estados Unidos, determinante no descongelamento das relações com Cuba, entre outras causas progressistas, diz que tem o coração dividido entre Washington e Gotham, como bom fã de Batman que é.

A paixão do político septuagenário pelo Homem-Morcego é tamanha que ele chegou a aparecer em cinco adaptações cinematográficas de suas aventuras: de “Batman Forever” (1995) a “Batman e Superman” (2016), passando por a icônica “Batman: o Cavaleiro das Trevas”, de Christopher Nolan (2008).

Em uma filmagem, conheceu Bob Kane, o pai dos quadrinhos do Batman. Sua primeira reação foi pedir que autografasse alguns gibis da sua coleção. O maior sonho de qualquer fã que se preze.

Leahy tinha cinco anos quando descobriu Batman, um personagem que nasceu em 1939, apenas um ano antes dele, em uma biblioteca em sua cidade natal de Montpelier, Vermont. Foi amor à primeira vista. “O Batman não tem superpoderes, tem que usar seu cérebro e ser valente, isso é o que eu sempre gostei”, disse em uma entrevista com a AFP.

Talvez inspirado pelo Batman tenha sido eleito senador com somente 34 anos, em 1974, ganhando de Bernie Sanders, que décadas mais tarde se uniria à Câmara Alta.

Batman o acompanhou ao longo de sua carreira política. Inclusive em 2017, quando o senador de sorriso largo recebeu AFP em seu escritório, o Cavaleiro das Trevas nunca está longe: seu logotipo adorna sua agenda, que fica sobre sua mesa de trabalho.

Sua devoção pelo super-herói gerou “brincadeiras bem intencionadas” por parte de seus colegas e faz que ele não hesite quando perguntam a ele quem é seu autor favorito: Frank Miller, que nos anos 1980 escreveu e ilustrou a minissérie “Batman: O retorno do Cavaleiro das Trevas”.

– Batman e as minas terrestres –

Em 1992, os responsáveis de D.C. Comics, a editora de Batman, pediu a Leahy que escrevesse o prólogo de uma coleção das primeiras aventuras do herói.

Ficaram impactados com seu conhecimento quase enciclopédico do tema, em especial quando lembrou a eles que, contrariamente à crença popular, o justiceiro usava nos seus primórdios armas de fogo para matar seus inimigos.

“Eu disse a data (de publicação da história) e uma ou duas páginas sobre onde estava o tema. Disseram que sim. Não iam discutir com um senador. Mas descobriram que eu tinha mesmo razão”.

Quatro anos mais tarde, quando discursava no Congresso para proibir a exportação de minas terrestres, o legislador tentou mobilizar a opinião pública e apelou para seus contatos na DC.

O editor propôs que publicasse uma HQ em que o super-herói enfrentaria uma ameaça muito real: minas que colocam em risco crianças em zonas de conflito. Leahy então participou na redação e escreveu o prefácio de “Batman: Morte de Inocentes – o Horror de minas terrestres”.

Seu projeto de lei finalmente foi aprovado no Senado. “No dia que o votamos, havia uma cópia em cada gabinete dos senadores. Alguns inclusive me perguntarm ‘Você tem outro exemplar? É um artigo de colecionador!'”, lembra.

Se fosse um personagem no universo de Batman, Leahy seria o multimilionário Bruce Wayne, o alter ego do super-herói. “Não estou em forma para ser Batman”, diz sorrindo.

Durante as primárias republicanas de 2016, o senador comparou os candidatos aos fugitivos do asilo Arkham, onde estão presos os inimigos de Batman. Quem seria então Donald Trump?

“Provavelmente o Espantalho ou Coringa”, um psicólogo que aproveita do medo de seus oponentes para vencê-los ou um palhaço psicopata, conclui.