É incrível como a mata atlântica da Serra do Mar avança até quase tocar a areia, meio que costurando floresta e oceano em um mesmo horizonte. Talvez para nós, paulistanos, essa geografia já faça parte do automático dos finais de semana, mas confesso que, mesmo depois de tantos anos descendo a serra, ainda me surpreendo com aquela massa verde, fechada e infinita.
Ali, no litoral norte de São Paulo, Paúba conserva um silêncio difícil de encontrar. Digo isso porque está a poucos minutos das praias mais concorridas da região, como Maresias e Camburi, mas o vilarejo se mantém quase à parte: uma enseada pequena, de águas calmas, onde a vida de pescador ainda se mistura com a dos surfistas e com a de poucos visitantes que descobriram seu recanto escondido.
Mas não é apenas o mar que faz de Paúba um respiro. Como disse, é a mata que redefine a experiência do litoral. Aquele contraste entre o verde denso da serra e o modo como ele envolve tudo ao redor. E foi neste cenário que descobri um lugar que escolhe outra lógica para a hospedagem de praia: em vez de competir com a paisagem, prefere se esconder dentro dela.
Mira Casa não se revela de uma vez só. Vai surgindo aos poucos, entre o verde fechado da mata e o barulho constante da cachoeira, ao longo dos caminhos que ligam seus espaços por pontes e pequenas trilhas. As cinco casas projetadas pelo arquiteto catalão Pep Pons parecem protegidas pela floresta, como se sempre tivessem feito parte dela, um encontro sutil entre arquitetura e natureza.
Cada uma das cinco casas do Mira Casa — batizadas de Pátio, Pedra, Rio, Barco e Varanda — segue um desenho contemporâneo que privilegia a integração com o entorno. São construções amplas, de um, dois e quatro quartos, erguidas em materiais naturais como madeira, pedra e vidro, numa paleta terrosa que dissolve os volumes na paisagem.
A Casa Pátio conta com três suítes; a Casa Pedra e a Casa Barco, com duas suítes cada; a Casa Varanda com uma suíte; e a Casa Rio, a maior delas, com quatro suítes. Os ambientes são iluminados por grandes aberturas envidraçadas, que trazem a mata e a cachoeira para dentro, criando a sensação de que o interior se prolonga até a floresta. O toque artesanal e os tons neutros reforçam a atmosfera de sobriedade, onde a sofisticação é discreta e se deixa perceber pela experiência sensorial — no silêncio, na iluminação natural, no som constante da água.
O conjunto não se resume às casas. Entre elas, preservada no coração do terreno, está uma pequena igrejinha colonial, que transforma o espaço em cenário singular para casamentos e celebrações intimistas. Ali, arquitetura e natureza se encontram também na memória afetiva, tornando o projeto Mira como um destino que vai além da hospedagem.
No fim, o que impressiona em Paúba é justamente essa coexistência da mata com o vilarejo e, agora, um projeto que se deixa moldar pela paisagem. Um lugar lindo que sintetiza esse encontro como uma forma de lembrar que, no litoral norte, ainda existem lugares onde natureza e arquitetura podem falar a mesma língua.