BRILHO O Salão dos Espelhos visitado por turistas: um dos pontos altos para os hóspedes do hotel (Crédito:Charles Platiau )

Com extremo glamour e impensável requinte, um hotel está funcionando, desde o primeiro dia de junho, em um dos três edifícios que compõem o tradicional Palácio de Versalhes, considerado um dos mais suntuários do mundo e símbolo maior da época da monarquia francesa. Chama-se Le Grand Contrôle, e o quarto exibido na foto acima é somente uma de suas luxuosas quatorze suítes. Para entregrar-se, em seu interior, a sonhos celestiais, paga-se por noite R$ 10 mil. Tem área de cerca de cento e vinte metros quadrados, pé direito de aproximadamente oito metros (alguns quartos tem altura de quatro) e mescla estilos com prevalência da opção pelo rocaille e pitadas ornamentais e decorativas que se valem da inscrustação de conchas ­— estética introduzida na França por volta de 1730. Identificar esse e os demais treze quatros por números? Nem pensar. A cada um deles foi atribuído o nome de uma personalidade que serviu a realeza. À suíte da foto deu-se o nome de Jacques Necker, nobre cavalheiro que operou como direitor financeiro de Luís XIV. Versalhes foi construído no século 17 pelo arquiteto Jules Hardouin-Mansart, favorito da corte.

NOVIDADE Spa e piscina coberta com 15 metros de comprimento: modernidade com requinte (Crédito:Divulgação)

Le Grand Contrôle não ostenta cinco estrelas, mas, isso sim, uma constelação. Todas as suas dependências passaram por restauração nas mãos do designer de interiores Cristophe Tellemer. Um acordo de concessão, firmado há quatro anos, fez com que Versalhes passase à administração do grupo LOV Hotel Collection e à Alain Ducasse Entreprise. Repousado o corpo e navegada a noite na calmaria de um dos suntuosos quartos, raia a manhã. E eis que as monumentais janelas de alguns deles dão para a famosa Orangerie, infinito jardim com árvores provenientes de diversas partes da Terra, mas com nítido domínio dos laranjais — sim, até hoje eles predominam, porque era o seu aroma o predileto do Rei Sol. E a alma francesa tem como essência presentificar o passado. Já Luís XV e Luís XVI, embora também amassem o aberto e amplo bosque, não nutriam gosto especial por nenhuma árvore. Hora do café da manhã? Ele está incluído no valor da diária e, já aí, o hóspede começa a saborear a competência, o talento e o refinamento do chef Alain Ducasse. O seu trabalho acompanha todas as refeições, e a mais cerimoniosa é a das oito e meia da noite. Nesse horário, em ponto, ouve-se um sino. Hóspedes acomodam-se, então, na sala especial para refeições, e cinco pratos, alguns cobertos com pó de ouro, começam a ser servidos por uma brigada trajada como se estivem entre os anos de 1643 e 1715, período em reinou Luís XIV. Por pessoa, e sem o acompanhamento de vinho, o jantar custa trezentos e cinquenta euros. Há sopas, há cremes, há assados, há sobremesa. Ah, e tem a louça decorada pela grife de porcelanas Bernardaud, uma das mais chiques em todo o mundo.

O que fazer entre a manhã dos laranjais e as noites estreladas. Dar passeios, é claro, capitaneados por cultos guias. Algumas paradas são obrigatórias. Vamos, portanto, caminhando e parando para admirar determinados locais que se colam ad infinitum à memória dos hóspedes. O Palácio de Versalhes abriga atualmente a residência oficial do presidente da França, quando ele está nessa cidade, na região de Yvelines. Conhecida a residência, vem o ponto alto da visitação: o Salão dos Espelhos, nome mais que justificado porque são trezentos e cinquenta e sete espelhos ­— e, enquanto há claridade natural, eles fazem um jogo com dezessetes janelas e refletem o jardim com limoeiros, laranjeiras, romãs, palmeiras e louro em flor. À disposição, para serem visitadas e usufruídas, estão a piscina coberta de quinze metros e a piscina ornamental de treze hectares. Detalhe: essa última foi construída por guardas suíços entre 1679 e 1682. Outros dois pontos imperdíveis são o Petit Trianon e o Grand Trianon, aposentos de extremo luxo, nos quais rainhas e reis se refugiavam quando queriam ficar a sós.

DIVINA A famosa Orangerie: prevalência dos laranjais que exalam perfume que era o favorito de Luís XIV (Crédito:Divulgação)

Maria Antonieta, esposa de Luís XVI e guilhotinada em 1793 pela Revolução Francesa que colocou fim à monarquia, costumava passar dias e dias em seu indevassável Petit Trianon. O Palácio de Versalhes e seu requinte é um monumento à identidade do país, mesmo no republicano tempo atual. Luís XIV, cansado de seguir os conceitos de realezas estrangeiras, criou um estilo próprio. A França tornou-se a França, e seu nacionalismo fez-se tão forte, já naquela época, que Maria Antonieta foi impedida de ingressar no país para se casar, trajando roupas de origem germânica. Trocou os trajes. Menos sorte teve o seu cãozinho austríaco, que não foi admitido, sob nenhuma hipótese, em Versalhes.