Como os demais países “emergentes”, o Brasil tem hoje à sua frente o enorme desafio de superar o que se tem denominado “armadilha do “baixo crescimento” (ou “da renda média”), condição sine qua non para ingressar no seleto grupo de países efetivamente desenvolvidos. Nossa renda anual por habitante anda atualmente pela casa dos 12 mil dólares. Supondo que essa taxa cresça anualmente 3% em média — estimativa claramente otimista —, o Brasil precisará de quase 25 anos para dobrá-la, ou seja, para escapar da mencionada armadilha. Escusado ressaltar que os números globais de nossa economia ocultam desigualdades sociais grotescas, situadas entre as piores do mundo e dificilmente sustentáveis em tal horizonte de tempo.

A esse resumido diagnóstico, é necessário acrescentar o aumento de incertezas e dificuldades no cenário internacional – incertezas de caráter epidemiológico e climático, exemplificadas pela Covid19 e pelo aquecimento global. Dado esse pano
de fundo, a polarização política que se configurou a partir das eleições presidenciais de 2018 pode ser considerada uma questão crítica, pois mantém a ação dos agentes econômicos balizada por expectativas de instabilidade e turbulência. Dentro desse quadro, a atitude das elites brasileiras — e aqui me refiro tanto às pessoas investidas em posições de autoridade nos três Poderes como a todas as outras que se destacam em seus diferentes campos de atividade — é deveras extraordinária. Todas elas se assemelham às avestruzes, e aqui não me refiro ao grupo 14 do jogo do bicho, mas a pessoas que se caracterizam por uma invencível obstinação em ignorar o lado desfavorável da realidade.

A ilusão de sermos “uma das maiores economias do mundo” impede-nos de perceber que, sob muitos aspectos, estamos em franco retrocesso

E nossa realidade, como qualquer criança percebe, tem dois lados. Um é o que já está aí, bem à nossa vista, que as elites se recusam a enfrentar com reformas abrangentes e enérgicas. O outro é o movimento subjacente a tudo o que acontece em qualquer sociedade. Nenhuma pessoa de bom senso imagina que vivemos patinando sobre um mesmo ponto, numa danse sur place. A ilusão de sermos “uma das maiores economias do mundo” impede-nos de perceber que, sob muitos aspectos, estamos em franco retrocesso. A área educacional oferece um bom exemplo. O gasto público por estudante tem aumentado, mas a qualidade do ensino tem piorado. Ou, se preferem, a dimensão e a audácia com que as grandes quadrilhas vêm perpetrando seus assaltos. O caso de Araçatuba está fresco em nossa memória. Daqui a 25 anos, a quantas araçatubas poderemos chegar?