O pronunciamento do casal presidencial às 20h desta sexta-feira, véspera de Natal, foi deprimente, a síntese do que é o governo Bolsonaro desde que assumiu: sem alma, sem coração e sem ideias. Ao ficar no ar por um minuto e onze segundos, os dois conseguiram resumir a passagem dos Bolsonaro pelo Poder: não realizou nada, nada faz e nada fará até 31 de dezembro de 2022, último dia no governo, pois, infelizmente, o impeachment não prosperará. Até porque nem a extrema esquerda lulista o deseja. Lula quer ver Bolsonaro sagrando em praça pública até o final do governo, pois, assim, será mais fácil derrotá-lo em outubro.

Nos 30 segundos destinados a um capitão abobalhado, lendo um texto vazio em um frio teleprompter, estático, olhos esbugalhados, como se estivesse recitando a ordem do dia de um quartel, Bolsonaro não disse uma única palavra de conforto aos parentes dos mais de 618 mil mortos vítimas da Covid-19 e não fez uma única menção aos milhares de pais que desejam, o mais rápido possível, a compra das vacinas para a imunização de seus filhos com idades entre 5 e 11 anos.

Nenhuma palavra sobre a tragédia que vivemos há quase dois anos e para a qual ele deu grande contribuição, ao tramar contra as vacinas, contra o uso de máscara, contra o distanciamento e isolamento social e tantas outras posturas negacionistas que praticou. Os crimes que cometeu foram tantos que lhe valeram o indiciamento pela CPI da Covid e que, um dia, terá de pagar, até mesmo com a prisão. Afinal, não comprou as vacinas na hora certa e pelo menos 260 mil pessoas morreram sem necessidade. Poderiam ter sido salvas se tomassem o imunizante antes, como assegura o governador João Doria, considerado “O pai da vacina”.

O mandatário se limitou a dizer que 2021 foi um ano de “muitas dificuldades” e que “não nos faltaram seriedade, dedicação e espírito fraterno na construção de políticas públicas para as famílias”. Teria o presidente gravado a mensagem de Natal sob efeito de uma droga transformadora de realidades? Como assim 2021 foi um ano apenas de “dificuldades?” O ano de 2021 foi um dos anos mais terríveis do País dos últimos séculos, com mortandade recorde pela pandemia, com desemprego alto, inflação nas nuvens, juros abusivos, economia em frangalhos e fome, muita fome. Na verdade, 2021 foi ótimo para o presidente, cuja família continuou enriquecendo com o fruto das rachadinhas, como diz o MP. Seus aliados também não tiveram do que reclamar, pois se lambuzaram nos R$ 16 bilhões em emendas parlamentares desviadas para enriquecer alguns deputados amigos. Bilhões destinados para projetos suspeitos e R$ 4,9 bilhões para serem torrados na campanha eleitoral deste ano, enquanto dinheiro para Educação e Saúde não há. O governo precisou dar o calote em R$ 89 bilhões nos precatórios garantidos pela Justiça para sustentar toda a corrupção que gira no entorno do Centrão e seus aliados de última hora.

Quem viveu um ano terrível, de forma inquestionável, foram os 20 milhões que vivem em situação de miséria absoluta, passando fome e fazendo sopa com ossos doados nos açougues. Esses sim permanecem desamparados por um governo desalmado, sem coração e sem a mínima empatia com os mais humildes.

Até a primeira-dama saiu-se melhor, embora não tenha sido eleita e não precisasse dirigir-se à sociedade como o fez. Já, em se tratando do presidente, isso torna-se obrigatório. Afinal, tendo em vista que o mandatário se utiliza do tempo do horário nobre no rádio e na TV, pago com o dinheiro do contribuinte, exatamente com a missão de prestar contas à Nação, Bolsonaro poderia dar uma palavra de esperança à população, pois 2022 será mais difícil do que 2021. Ao contrário, ele faz um discurso vazio, como sempre são suas falas, quer aqui no Brasil, quer no exterior. Ele nunca tem nada a falar. Michelle, que falou por 41 segundos, conseguiu mais destaque do que o mandatário, cabeça oca, cabeça de vento.

Mesmo saindo-se um pouco melhor, Michelle também seguiu no mesmo diapasão de um governo medíocre, sem projetos e ideias. Ela chegou a dizer, logo na abertura de sua fala, que fazem um governo “com dignidade e respeito ao povo”. Ora, em que mundo a primeira-dama e seu estúpido marido vivem? Levaram meses para liberar os recursos do Bolsa Família, agora com outro nome, enquanto milhões de brasileiros morriam de fome, especialmente milhares de criancinhas. Ninguém do governo se comove por isso até agora.

E para fechar o ano como o pior governo da nossa história, basta ver o balanço de sua ação nas áreas mais importantes, da saúde à educação, da economia ao meio ambiente, da cultura à ciência, entre tantos outros setores destruídos por Bolsonaro. E, o mais grave, este governo está dando início a um processo de dilapidação dos cofres públicos para promover iniciativas que levem à reeleição. Nem que para isso intensifique o que está acontecendo em proporções alarmantes: o descontrole fiscal, a crise econômica, o desemprego em massa, a inflação e juros estratosféricos, PIB negativo e muito desespero para as famílias mais carentes. Diante de perspectivas tão negativas, basta rezar para que Deus nos livre logo dos males que nos levaram à essa situação: os dois extremistas que nos governam há 20 anos. Ou seja, nos afaste dos populistas de esquerda (Lula) e os populistas de direita (Bolsonaro). Precisamos de gente equilibrada no Poder.