O pintor Candido Portinari (1903-1962) costumava aceitar encomendas. Como outros artistas que expõem atualmente no Rio de Janeiro, ele gostava de obras espetaculares. Em 1953, foi sondado por um amigo, o advogado Francisco São Tiago Dantas (1911-1964), então presidente do Museu de Arte Moderna do Rio, para produzir um painel que decorasse a sala de jantar de sua casa em Botafogo. Ele queria uma obra que representasse o episódio bíblico das Bodas de Caná. Foi no casamento de Caná que Cristo fez o seu primeiro milagre: a transmutação de água em vinho. Dantas e Portinari trocaram cartas até que este aceitou trabalhar na parede da sala de jantar do amigo. Concluiu “Bodas de Caná” em 1957: um painel de 1,70 metros de altura por 4
de largura, em têmpera sobre cedro naval, embutido na parede.

A obra retrata Maria, Jesus, a família de Caná e um mordomo ajoelhado diante de potes. Ela acompanhou a história da família de Dantas, que se tornou ministro das Relações Exteriores e da Fazenda, de 1961 a 1964. Em 2010, a obra foi legada ao MAM com a morte da viúva de Dantas, Edméa, por desejo dela. A restauração levou sete anos. “Havia desgaste natural de cores, o que foi corrigido, mas o mais difícil foi o transporte”, diz Fátima Noronha de Salles, conservadora do MAM. “A peça teve de ser içada até o primeiro andar.” O painel ganha sua primeira exposição, acompanhada de documentos como as cartas e outras obras. Segundo Fátima, há planos para que excursione pelo Brasil. MAM Rio, de 14/9 a 19/11.