Mesmo ocupando a Presidência da República, Bolsonaro fracassou na tentativa de criar um partido, o Aliança, que naufragou. As investidas no PRTB, Republicanos e até no PP para obter o controle ilimitado também não tiveram sucesso. Outras sondagens pelas siglas do Centrão aconteceram, mas o presidente não encontrou um partido para chamar de seu. Pressionado pela necessidade de obter uma filiação até abril para disputar a reeleição, o mandatário a voltou às tratativas com o partido pelo qual se elegeu em 2018, o PSL. Ele saiu da legenda depois de um duro embate com o deputado Luciano Bivar, que preside o partido. Bolsonaro queria ter controle total, inclusive financeiro. O fundo eleitoral do PSL foi de R$ 193 milhões e o fundo partidário superior a R$ 100 milhões em 2020. Para reconquistar o partido, Bolsonaro escalou o filho Flávio e o vice-presidente do PSL, Antônio de Rueda: os dois são muito próximos. Agora, Bivar acompanha as negociações à distância.

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“O PSL virou um balcão de negócios” Júnior Bozzella, deputado (Crédito:Divulgação)

Dentro dessa articulação para dominar totalmente a agremiação, os deputados contrários a Bolsonaro estão sendo expurgados. Vários deles, como Joice Hasselmann e Júnior Bozzella, estão sendo empurrados para fora da legenda e deverão ingressar no PSDB ou MDB, como ISTOÉ apurou com exclusividade. Hoje, a bancada de 52 deputados já é dominada pelos governistas. Eles ocupam as presidências das principais comissões da Câmara. As escolhidas foram Aline Sleutjes (Agricultura), Bia Kicis (CCJ) e Carla Zambelli (Meio Ambiente). Elas atuam em defesa de áreas estratégicas do governo.

De olho nos votos paulistas

Essa tática de moldar o PSL às vontades do presidente causou uma guerra em São Paulo, que tem o maior colégio eleitoral do País. Joice Hasselmann é contrária à aproximação com Bolsonaro. Ela afirma que chegou a brigar com o presidente Bivar no grupo de Whatsapp por conta dessas negociações. Bivar teria dito: “se ninguém tirar aquela mulher do grupo, eu vou sair”. Joice respondeu: “Já que você não tem coragem de me tirar, eu saio”. A deputada Janaina Paschoal, por sua vez, afirmou que o deputado Bivar não tem resistência alguma à nova filiação de Bolsonaro ao PSL: “ele apenas não quer que se repita 2018, quando entregou o partido ao Gustavo Bebianno”. O atual presidente do PSL no estado de São Paulo, Júnior Bozzella critica a reaproximação com o presidente. “Agora o partido vai ser o patrocinador desse genocida”, comentou. Para ele, “o PSL virou um balcão de negócios”. Bozzella será substituído na presidência do partido pelo advogado Antônio de Rueda, vindo de Recife. Ele é o nome forte e tem a missão de fazer um contraponto ao governador João Doria (PSDB), um dos adversários de Bolsonaro na corrida presidencial.Rueda é o personagem central das tratativas. “Seguindo orientação direta de Bivar, Rueda tem ampliado a interlocução com líderes políticos de todo o País”, informou a assessoria do PSL. O advogado não esconde que fez duas reuniões com o presidente da República.

Em outros estados, as negociações seguem o mesmo enredo. Na Bahia, a deputada Dayane Pimentel perderá a presidência para o deputado Elmar Nascimento, que está saindo do DEM para liderar a agremiação e ser candidato a governador, com apoio de Bolsonaro. As trocas continuam no Rio de Janeiro. Lá, o atual presidente estadual, deputado Sargento Gurgel, disse que não vê problema em mudar a direção para beneficiar Bolsonaro. Em Minas Gerais, o deputado Delegado Marcelo Freitas disse que continua na presidência, “mas já coloquei meu cargo à disposição, caso seja necessário para trazer Bolsonaro”.

A influência de Flávio dentro do governo possibilita a reaproximação com o PSL. Ele foi beneficiado pelo ministro do STJ João Otávio de Noronha em decisões sobre o processo das rachadinhas do senador. O ministro é apontado como o preferido do filho de Bolsonaro para assumir a próxima vaga do STF. Noronha é pai do advogado Otávio Noronha, que divide o escritório em Brasília com Antônio de Rueda. Não são meras coincidências.

Segundo parlamentares, a gota d´água no desentendimento entre Bivar e Bolsonaro aconteceu, em 2019, quando o presidente deixou a legenda, afirmando que o deputado “está queimado para caramba”. Neste mesmo dia editou a MP 904/2019, que extinguia o DPVAT. Bivar foi prejudicado por ser acionista da Companhia Excelsior de Seguros, que gerencia recursos do seguro obrigatório. Rueda também perdeu porque “foi contratado pela Líder Seguradora, em 2014, para defendê-la em contencioso de massa no caso do DPVAT”, informou sua assessoria. No entanto, num passe de mágica, o governo não continuou com a iniciativa e deixou a MP caducar no Congresso, em abril de 2020. O gesto foi interpretado como uma trégua na relação entre o Planalto e o PSL. Desde então, o diálogo vem sendo retomado. O senador Flávio e o vereador Carlos estão sem partido e devem se filiar em breve à legenda. O deputado Eduardo nunca deixou o PSL. A escolha do presidente foi dar um passo de volta ao lugar de onde nunca quis sair.