Gilberto Marques

Nos estertores do período imperial, a cidade de São Paulo ganhou um monumento à Proclamação da Independência que, já em 1895, seria transformado no primeiro grande museu do estado. Com arquitetura imponente e amplos jardins de inspiração francesa, o Museu Paulista (mais conhecido como do Ipiranga), pertence hoje à Universidade de São Paulo e abriga cerca de 125 mil itens, entre pinturas, esculturas, fotografias, móveis, objetos decorativos, roupas e documentos que contam uma parte importante da história local. Sua visitação está suspensa devido às obras de restauro que só serão concluídas em 2022. Até o bicentenário da Independência, esse rico acervo ficaria inacessível ao público. Uma exposição inédita transferiu uma pequena parte da coleção para o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. Cerca de 100 peças do Museu Paulista agora dialogam com o acervo do próprio palácio e da Pinacoteca do Estado. A mostra permite compreender a história de São Paulo a partir de seu desenvolvimento econômico e social.

EM AÇÃO Maquete do Museu Paulista é restaurada diante do público: sensação de acompanhar a obra (Crédito:Gilberto Marques)

“Trazer o Museu Paulista para o Palácio dos Bandeirantes é uma iniciativa pioneira e que eu considero extraordinária”, afirma Ana Cristina Carvalho, curadora do acervo artístico-cultural dos Palácios do Governo de São Paulo, coleção que possui cerca de 4 mil itens e da qual faz parte também o Palácio Boa Vista, a residência de inverno de quem governa o estado, em Campos do Jordão. Segundo a curadora, essa é a primeira exposição com os três mais antigos acervos paulistas em um único espaço. “Essas coleções mostram os hábitos e costumes da elite europeizada de um estado recém-endinheirado, cujos hábitos e costumes que se inspiravam em Paris e onda havia também uma forte presença da Igreja”. Isso explica, em parte, o fato de a maior parte do material exposto ser de natureza figurativa, com pinturas em que predominam retratos, paisagens e cenas da vida cotidiana, enfatizando o modo de vida do início do século XX e também o modo como a economia paulista se desenvolveu como locomotiva do País.

Restauro ao vivo

A mostra ocupa o saguão de entrada, o mezanino e o primeiro andar do Palácio dos Bandeirantes. Há uma carruagem do final do século 19, grandes telas de Benedito Calixto (1853 – 1927) que retratam o litoral paulista e a capital, dois cômodos com o mobiliário de um dormitório que pertenceu ao interventor Antônio de Macedo Soares (1838-1905), uma coleção de ferros de passar roupas e duas de louças, entre muitos outros objetos decorativos. “Essa exposição mostra não só objetos históricos, pinturas e esculturas, mas também um pouco da tecnologia dos museus contemporâneos que permite torná-la mais interativa”, diz Ana Cristina. É possível fazer uma selfie tendo ao fundo uma reprodução de “Operários”, tela de Tarsila do Amaral que está no Palácio Boa Vista”. Outra reprodução é de “Independência ou Morte”, de Pedro Américo (1943-1905), obra que não pode ser removida do Museu Paulista por motivos técnicos. Projeções e totens com telas sensíveis ao toque que permitem conhecer os acervos das instituições reunidas e reforçam os recursos interativos da exposição.

Uma das surpresas é a sala em que está sendo restaurada a maquete de gesso do projeto original do Museu Paulista, feita na década de 1880. Todos os dias, dois restauradores trabalham no ateliê montado especialmente para esse fim em uma ala do Palácio dos Bandeirantes que pode ser observada pelo público, já que eles ficam segregados apenas por uma vidraça. A ideia cria a sensação de acompanhar de perto a reforma do Museu Paulista, cujos detalhes estão expostos em outra maquete menor e em um vídeo explicativo com depoimento de um dos arquitetos do projeto.

“Essa exposição mostra não só objetos históricos, pinturas e esculturas, mas também um pouco da tecnologia dos museus contemporâneos que permite torná-la mais interativa” Ana Cristina Carvalho, curadora

Além de permitir ao público conhecer parte do acervo do Museu Paulista, a exposição que permanece aberta até 20 de janeiro de 2019 evidencia um desejo pessoal do atual governador e candidato à reeleição, Marcio França (PSB): o de estimular a visitação à sede do governo. “Além de ser um espaço de trabalho e residência oficial, este Palácio é um patrimônio da população”, afirma Felipe Pinheiro, coordenador de comunicação do governo paulista. Embora o Palácio dos Bandeirantes funcione também como museu desde 1997, pouca gente sabe que é possível visitá-lo. Um hábito que pode ser estimulado com exposição como a atual.