Nascer no Brasil é quase uma condenação de desperdício de talentos e aptidões. Invariavelmente, o jovem que cresce no País tende a ficar abaixo do seu potencial e dependendo de sua classe social e de sua etnia pior tende será a situação. Problemas de educação, falta de oportunidades de desenvolvimento, baixa qualificação, desigualdade racial e investimentos insuficientes em capacitação profissional levam os brasileiros a ficarem muito aquém de onde poderiam chegar tanto nos estudos como no trabalho. E uma pesquisa recém-concluída pelo Banco Mundial e divulgada pela BBC News Brasil mostra que esse subaproveitamento de habilidades só aumentou ao longo do governo Bolsonaro e depois da pandemia.

Houve uma reversão de dez anos no chamado índice de capital humano (ICH), o conjunto de capacidades que as pessoas acumulam ao longo da vida, segundo o levantamento. No novo cenário, uma criança nascida em 2019, por exemplo, só conseguirá alcançar 60% de seu potencial quando completar 18 anos. Na média nacional, isso significa que os outros 40% se perderão. Já para quem nasceu em 2021, esse ICH caiu para 54%. A situação é grave e explica, em parte, as limitações de crescimento econômico do País.

Segundo o estudo do Banco Mundial, intitulado “Relatório de Capital Humano Brasileiro”, o Produto Interno Bruto (PIB) nacional poderia ser 2,5 vezes maior se as crianças conseguissem desenvolver plenamente suas habilidades. A realidade, porém, é que se Investe pouco nas pessoas e o ICH nacional vem caindo, com os trabalhadores perdendo produtividade e deixando de adquirir habilidades imprescindíveis para sua evolução profissional. Há uma formação de mão-de-obra desalinhada com as necessidades econômicas do País e os esforços de capacitação estão muito abaixo dos necessários.

O ICH brasileiro de 60% está bem abaixo de países desenvolvidos. No Japão, por exemplo, esse índice é de 81% e nos Estados Unidos de 70%. O mais grave, no entanto, é que no Brasil há um componente racial que torna as oportunidades de desenvolvimento pessoal ainda mais incertas para determinados grupos. Enquanto a produtividade esperada de uma criança branca era de 63% do seu potencial em 2019, o de uma criança negra é de apenas 56% e de uma indígena, de 52%. Com o caos na educação e o abandono das populações vulneráveis estimulados pelo governo Bolsonaro, o País precisará de pelo menos uma década para recuperar seu capital humano.