Bolsonaro havia dito que desejava passar um ano novo feliz e que, por isso, havia decidido não falar com a imprensa na Porta do Palácio do Alvorada, como fazia diariamente há meses. Mas a promessa não demorou muito. Afinal, na manhã desta quinta-feira (2), o presidente voltou a falar com jornalistas na porta do Alvorada. Disse que deve sancionar a lei que aumenta o fundo eleitoral para R$ 2 bilhões. Desta vez não destratou os jornalistas.

Mas o presidente deveria repensar a forma como ele se dirige à imprensa. Afinal, da maneira que age, mostra nunca ter nada inteligente a dizer. Seus pronunciamentos, invariavelmente, são com posições ideológicas ultrapassadas, com análises conservadoras, destilando ódio e disseminando a divisão entre “nós” e “eles”, como se ainda estivesse em campanha. Aliás, ele ainda não desceu do palanque, mais de um ano depois de terminadas as eleições.

Da última vez que falou com jornalistas na porta do Alvorada foi para informar que iria passar o réveillon na Bahia e sua mulher ficaria em Brasília para uma “pequena cirurgia”. Pegou tão mal o que disse que teve que cancelar o passeio na Bahia e voltar a Brasília para passar a virada do ano ao lado da mulher. Isso sem contar que dias antes havia destratado jornalistas, ao dizer a um deles que perguntasse à sua mãe qual havia o comprovante que ela havia dado ao seu pai. E também humilhou um outro repórter dizendo que ele tinha uma “cara de homossexual terrível”.

Por essas e por outras é que a “greve” de entrevistas de Bolsonaro na porta do Alvorada será até benéfica para o país – sobretudo para preservar a figura do próprio presidente, que deveria ter papel de estadista e nunca teve desde que assumiu. Mais do que isso, o presidente poderia usar estes dias de reflexões de Ano Novo para perceber que ele não pode se manter como líder de uma facção de extrema-direita, mas como presidente de um País que é a nona economia do mundo. Assim, 2020 surge como uma grande oportunidade para Bolsonaro rever seus conceitos. Ou ele muda a forma de se relacionar com a imprensa, ou a imprensa vai acabar deixando-o a falar sozinho.