O quarto onde dormia o imperador D. Pedro II, no Palácio de São Cristóvão, guarda intacta a vista da Quinta da Boa Vista. Do lado de dentro, no entanto, no ambiente ainda majestoso, restam um lustre parcialmente quebrado, alguns móveis sem conservação e manchas de umidade na parede. No meio disso tudo trabalha o antropólogo Alex Kellner, o novo diretor do Museu Nacional/UFRJ.

Ele decidiu ocupar o quarto real, que estava fechado havia mais de 20 anos, como uma forma de chamar a atenção para a situação. “É uma grandeza com problemas”, constata Kellner, fazendo um gesto que abrange todo o quarto.

O Museu Nacional é a mais antiga instituição científica do País. Fundado em 1818 como Museu Real, no Campo de Santana, no Centro, e com sede no Paço da Quinta desde 1892, completa 200 anos em junho. Embora tenha um dos mais importantes acervos de história natural da América Latina, o museu chega à data simbólica parcialmente abandonado. Tem goteiras, infiltrações, salas vazias e público de menos de 200 mil pessoas por ano – muito abaixo de sua capacidade.

O novo diretor da instituição promete mudar esse quadro. Ele já começou a negociar parcerias com a iniciativa privada e tenta ser recebido pela Casa Civil do governo federal para recuperar o Palácio de São Cristóvão. Também quer acomodar em um novo prédio os funcionários e pesquisadores do museu que continuam trabalhando nas salas centenárias.

Kellner conhece o potencial do precioso acervo que tem em mãos e sonha: quer chegar à marca de 1 milhão de visitantes por ano. Seus principais aliados nesta batalha são um dinossauro gigante, a antepassada de todos os brasileiros e muitas múmias.

Decisão política

Um dos maiores especialistas do mundo em pterossauros (répteis pré-históricos voadores), o paleontólogo Alexander Kellner é pesquisador da instituição há 20 anos. Ele tem planos para modernizá-la e colocá-la à altura dos grandes museus internacionais de História Natural. Veja, a seguir, trechos da entrevista dada pelo diretor do Museu Nacional ao jornal O Estado de S. Paulo:

Quais são seus objetivos na direção do Museu Nacional?

Quero fazer uma gestão mais proativa, para que o museu possa conversar mais com a sociedade. É preciso mostrar às pessoas essa maravilha que é o Museu Nacional.

E como conseguir isso?

Temos de pensar a instituição para além de seus 200 anos e revitalizá-la. Já temos aportes de recursos prometidos e estamos negociando outros. Estamos em fase de assinatura de contrato com empresas que querem patrocinar o museu e queremos mais. Um dos principais objetivos é renovar nossas exposições para que elas sejam mais atrativas. Não queremos que os brasileiros precisem ir a Nova York ou a Londres para ver um museu de história natural de primeira linha.

Isso aumentaria a visitação?

Sem dúvida. Tenho uma meta clara, ambiciosa, mas plenamente factível: elevar esse número para 1 milhão de visitantes por ano até o fim da minha gestão. Esse é o número de visitantes do Museu do Amanhã – com quem estamos fazendo um convênio também. Nós temos um potencial dessa magnitude.

Como alcançar esse objetivo?

É preciso renovar as nossas exposições. Há um mundo moderno aí fora e o museu precisa se adaptar, com instalações mais modernas, com montagens mais interativas, com mais utilização de recursos tecnológicos. Mas tudo isso requer investimento – consegui-lo é nosso foco.

Como ter os financiadores?

Nós já temos o principal para fazer um museu de primeira qualidade: o acervo. Prédios, reformas, contratações, podem ser feitos em curto prazo. Mas nosso acervo foi construído ao longo de 200 anos. Precisamos apenas de uma decisão política para que o Brasil tenha um instituição de altíssima qualidade.

Outras atrações

O meteorito Bendegó: No saguão do museu está o maior meteorito já encontrado no Brasil, com 5,36 toneladas. A rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no sertão da Bahia. Está na coleção desde 1888.

Luzia, a 1ª brasileira: O esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas tem cerca de 12 mil anos de idade e foi achado em Lagoa Santa, em Minas, em 1974. Trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos e foi uma das primeiras habitantes do Brasil. A descoberta de Luzia mudou as teorias sobre o povoamento das Américas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.