06/08/2021 - 9:30
Há nove meses no cargo, o ministro do Turismo, Gilson Machado, faz uma gestão marcada pela falta de projetos e incapacidade de construir maneiras para reerguer o setor turístico da mais profunda crise provocada pela pandemia. Já são mais de 1 milhão de desempregados no segmento, que sofreu uma queda de quase 70% em suas atividades, levando ao fechamento de cerca de 50 mil empresas do ramo desde março de 2020. Mesmo assim, a situação não parece ser grave para o ministro. Além de passar boa parte do tempo participando de lives com Bolsonaro, o ministro, que é sanfoneiro na maior parte do tempo, tem o hábito de viajar muito, mas executar pouco. Há dez dias, ele acompanhou seu subordinado, o secretário de Cultura, Mario Frias, na Conferência dos Ministros da Cultura, em Roma, e preferiu explorar roteiros turísticos, visitando monumentos históricos na Itália. A viagem, que custou R$ 116 mil aos cofres públicos, foi feita na semana em que a Cinemateca, em São Paulo, ardia em chamas, em mais uma demonstração de descaso do governo.
“A pandemia gerou a maior crise de todos os tempos para o setor. Agora, faltam medidas para atender às necessidades da hotelaria” Ricardo Roman, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
Dias antes do passeio pela Europa, ele viajou para Pernambuco, seu estado natal, ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, onde visitou hospitais e uma fábrica de oxigênio, que nada têm a ver com o setor ao qual deveria se dedicar. Um dos principais cartões postais do País, Pernambuco foi um dos estados mais afetados pela crise e ainda tenta se recuperar. O turismo em Pernambuco vem acumulando quedas ao longo do ano e chegou a ter retração de quase 30%. O ministro prometeu recursos para incrementar o fluxo de visitantes para o Estado, mas o problema é que, segundo integrantes do Palácio do Campo das Princesas, o dinheiro para custear projetos alardeados pelo sanfoneiro “nunca chega”.
A falta de planos concretos do ministro também é perceptível pelo resultado do segmento em pesquisas de desempenho. Um levantamento recente realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) apontou que o turismo brasileiro deixou de faturar mais de R$ 41 bilhões desde o início da pandemia e o segmento não tem nenhum projeto governamental para a recuperação após a retomada da economia motivada pela vacinação em massa. O setor sofreu retração de 9,8% de janeiro deste ano até julho, o que representa ainda uma queda de R$ 5,1 bilhões em faturamento.
Hotéis fechados
Em São Paulo, famosa por seus museus e grande variedade de restaurantes, a sensação é a mesma. Mais de 27 hotéis fecharam as portas desde o início da pandemia, dentre eles o Matsubara, que já hospedou diversos executivos de multinacionais. A atividade turística na cidade ainda está 53% inferior ao nível do período pré-pandêmico. As críticas à inércia do Ministério do Turismo vêm de todos os lados. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Ricardo Roman, afirmou que o segmento clama por medidas. “O impacto da pandemia para o setor gerou a maior crise de todos os tempos. No início, tivemos praticamente 90% dos hotéis com as vagas ociosas. Faltam medidas econômicas capazes de atender às necessidades da hotelaria”, afirmou o presidente da instituição. “Sentimos muita resistência em atender a pleitos específicos de nosso setor.”
A situação é a mesma em outros importantes estados turísticos, como o Rio de Janeiro. Lá, o Sindicato dos Meios de Hospedagem estima que as 380 empresas do setor chegaram a ter 62 mil quartos para hospedaria e hoje esse número está em torno de 48 mil. Pelo menos 20 hotéis fecharam as portas e estão sendo transformados em empreendimentos residenciais. É o caso dos hotéis Flamengo Palace e Paysandu, ambos no bairro do Flamengo, que estão sendo reformados para virar espaços residenciais. Empresários do Rio e São Paulo creditam a ausência de planos para o setor à falta de experiência e de capacidade de Gilson Machado. Afinal, antes de ser ministro, administrava uma pousada na praia de São Miguel dos Milagres, em Alagoas. O ponto mais alto de seu currículo ao chegar ao governo Bolsonaro era ser sanfoneiro da banda de forró Brucelose. Gilson é ainda companheiro de pesca do mandatário e dos seus filhos e foi graças a isso que ele galgou postos importantes na Esplanada dos Ministérios.