Há nove meses no cargo, o ministro do Turismo, Gilson Machado, faz uma gestão marcada pela falta de projetos e incapacidade de construir maneiras para reerguer o setor turístico da mais profunda crise provocada pela pandemia. Já são mais de 1 milhão de desempregados no segmento, que sofreu uma queda de quase 70% em suas atividades, levando ao fechamento de cerca de 50 mil empresas do ramo desde março de 2020. Mesmo assim, a situação não parece ser grave para o ministro. Além de passar boa parte do tempo participando de lives com Bolsonaro, o ministro, que é sanfoneiro na maior parte do tempo, tem o hábito de viajar muito, mas executar pouco. Há dez dias, ele acompanhou seu subordinado, o secretário de Cultura, Mario Frias, na Conferência dos Ministros da Cultura, em Roma, e preferiu explorar roteiros turísticos, visitando monumentos históricos na Itália. A viagem, que custou R$ 116 mil aos cofres públicos, foi feita na semana em que a Cinemateca, em São Paulo, ardia em chamas, em mais uma demonstração de descaso do governo.

“A pandemia gerou a maior crise de todos os tempos para o setor. Agora, faltam medidas para atender às necessidades da hotelaria” Ricardo Roman, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis

 

REFORMA O Hotel Flamengo Palace, no Rio, vai virar empreendimento residencial (Crédito:Tércio Teixeira)

Dias antes do passeio pela Europa, ele viajou para Pernambuco, seu estado natal, ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, onde visitou hospitais e uma fábrica de oxigênio, que nada têm a ver com o setor ao qual deveria se dedicar. Um dos principais cartões postais do País, Pernambuco foi um dos estados mais afetados pela crise e ainda tenta se recuperar. O turismo em Pernambuco vem acumulando quedas ao longo do ano e chegou a ter retração de quase 30%. O ministro prometeu recursos para incrementar o fluxo de visitantes para o Estado, mas o problema é que, segundo integrantes do Palácio do Campo das Princesas, o dinheiro para custear projetos alardeados pelo sanfoneiro “nunca chega”.

A falta de planos concretos do ministro também é perceptível pelo resultado do segmento em pesquisas de desempenho. Um levantamento recente realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) apontou que o turismo brasileiro deixou de faturar mais de R$ 41 bilhões desde o início da pandemia e o segmento não tem nenhum projeto governamental para a recuperação após a retomada da economia motivada pela vacinação em massa. O setor sofreu retração de 9,8% de janeiro deste ano até julho, o que representa ainda uma queda de R$ 5,1 bilhões em faturamento.

Hotéis fechados

Em São Paulo, famosa por seus museus e grande variedade de restaurantes, a sensação é a mesma. Mais de 27 hotéis fecharam as portas desde o início da pandemia, dentre eles o Matsubara, que já hospedou diversos executivos de multinacionais. A atividade turística na cidade ainda está 53% inferior ao nível do período pré-pandêmico. As críticas à inércia do Ministério do Turismo vêm de todos os lados. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Ricardo Roman, afirmou que o segmento clama por medidas. “O impacto da pandemia para o setor gerou a maior crise de todos os tempos. No início, tivemos praticamente 90% dos hotéis com as vagas ociosas. Faltam medidas econômicas capazes de atender às necessidades da hotelaria”, afirmou o presidente da instituição. “Sentimos muita resistência em atender a pleitos específicos de nosso setor.”

CRISE Hotel Marazul, em Salvador, fechou na pandemia e tenta se reerguer (Crédito:Divulgação)

A situação é a mesma em outros importantes estados turísticos, como o Rio de Janeiro. Lá, o Sindicato dos Meios de Hospedagem estima que as 380 empresas do setor chegaram a ter 62 mil quartos para hospedaria e hoje esse número está em torno de 48 mil. Pelo menos 20 hotéis fecharam as portas e estão sendo transformados em empreendimentos residenciais. É o caso dos hotéis Flamengo Palace e Paysandu, ambos no bairro do Flamengo, que estão sendo reformados para virar espaços residenciais. Empresários do Rio e São Paulo creditam a ausência de planos para o setor à falta de experiência e de capacidade de Gilson Machado. Afinal, antes de ser ministro, administrava uma pousada na praia de São Miguel dos Milagres, em Alagoas. O ponto mais alto de seu currículo ao chegar ao governo Bolsonaro era ser sanfoneiro da banda de forró Brucelose. Gilson é ainda companheiro de pesca do mandatário e dos seus filhos e foi graças a isso que ele galgou postos importantes na Esplanada dos Ministérios.