O ministro Marcos Pontes ainda não se desligou de sua carreira como astronauta. Enquanto o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações está à beira de um colapso, ele segue no mundo da Lua, pouco se importando com a sua inoperância na Terra. Em uma demonstração de insanidade, Pontes defende, há meses, um vermífugo, a nitazoxanida, para o tratamento da Covid-19. Estudos comprovam que o medicamento é pior que a própria cloroquina para o combate à doença, mas Pontes disse equivocadamente e sem nenhuma comprovação que tal remédio tem 94% de eficácia no tratamento de pessoas contaminadas pelo coronavírus. “Todos os cargos importantes do Ministério foram tomados por militares. Isso causou muitos entraves e o ministro se mostrou ausente”, diz o ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão. “Não há articulação com a comunidade científica e a falta de força política de Pontes permitiu uma redução drástica no orçamento”. Somente em 2021, o Ministério sofreu um corte de 29% em sua verba total.

CRISE Ricardo Galvão: “Todos os cargos importantes estão tomados e ocupados por militares” (Crédito: GABRIEL REIS)

Desligando-se de suas funções essenciais, Pontes deixa de lado problemas reais e complexos que afetam o seu Ministério. Exemplos não faltam. Sistemas do CNPq passaram por um apagão. Por dez dias, a Plataforma Lattes ficou fora do ar e os pesquisadores brasileiros de mãos atadas — o site é responsável pelo armazenamento de dados de estudos realizados em todo o País. Mas o ministro prefere lidar com os problemas de uma maneira delirante. “É como furar o pneu, não dá para prever, simplesmente acontece”, limitou-se a dizer em meio ao caos. “O pessoal não vai morrer por causa disso”. Ele se esqueceu de um fato vital: se a ciência morre, pessoas morrem também.

Além de não questionar o aparelhamento do órgão, Marcos Pontes ainda trabalha
com o objetivo de implodi-lo

“As políticas públicas não estão sendo estabelecidas. Existe um certo ar de inoperância”, diz o presidente da Associação de Servidores do CNPq, Roberto Muniz: “Esse projeto de governo está sufocando as instituições”. O sucateamento nesse caso é claro: o CNPq está com o pior orçamento dos últimos 21 anos (passou de R$ 2,4 bilhões para R$ 1,2 bilhão) e as pesquisas no exterior foram reduzidas em 60%. Além disso, R$ 1 bilhão de incentivo à pesquisa foi cortado das universidades federais; mais de oito mil bolsas da Capes estão canceladas e o Inpe tem a pior verba de sua história (R$ 76 milhões). “Contra fatos não há argumentos, há comprovações do caos”, diz Acioli Antonio de Olivo, doutor em Engenharia Aeronáutica. “O Inpe tem cerca de 20% de seus funcionários em processo de aposentadoria e não se percebe nenhum movimento de reposição”.

Para completar, os cientistas do País estão com bloqueio de isenção fiscal para a importação de materiais, o que dificulta o desenvolvimento de pesquisas. Detalhe: a cota de importação, que no ano passado era de R$ 1,5 bilhão, hoje está em R$ 482 milhões. Além de não questionar o aparelhamento do Ministério, Pontes ainda trabalha com o objetivo de implodi-lo. Um caso evidente de irresponsabilidade é a falta de produção de chips que vem afetando países em todo o mundo devido à carência de matérias-primas e produtos. O Brasil, na contramão do que era de se esperar em um momento como esse, decide pela saída da única fabricante de chips de toda a América Latina, a Ceitec. A decisão é do Ministério da Economia, de Paulo Guedes, mas a retirada da Ceitec não contou com nenhuma objeção de Pontes. “Isso mostra uma total aceitação do que foi escolhido pelo Ministério da Economia. Não há luta, nem reclamação. É subserviência”, diz o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende. A ISTOÉ procurou o Ministério, mas não obteve resposta.