“Sentimos falta de nosso país e principalmente de nossos familiares”, explica Firdaous, uma marroquina que desembarcou em Tânger nesta terça-feira (12) de uma embarcação que saiu da Espanha, a primeira em dois anos. Ela não esconde a alegria de passar o Ramadã em sua terra.

As conexões marítimas entre Espanha e Marrocos, suspensas em 2020 pela crise sanitária e a tensão diplomática entre os dois países, foram retomadas em um gesto concreto de reconciliação.

O Tarifa Jet, um catamarã da companhia marítima FRS Iberia, chegou a Tânger (um grande porto do norte de Marrocos) de Tarifa (sul da Espanha) com 35 passageiros a bordo, a maioria marroquinos, segundo um jornalista da AFP.

“É um grande dia. Estamos muito felizes por voltar ao país após dois anos”, confessou Hamid Elkhadri no porto de Tânger.

Embora passageiros e ônibus possam atravessar a partir desta terça-feira os 14 quilômetros do Estreito de Gibraltar, os veículos privados devem esperar até 18 de abril.

– “Operação Marhaba” –

Tânger é um importante porto de entrada em Marrocos, especialmente para marroquinos que vivem na Europa e passam férias em sua terra, principalmente no verão boreal.

Este ano, estes retornos, conhecidos como “Operação Marhaba” (boas vindas), estão previstos para entre 15 de junho e 15 de setembro, segundo o Ministério de Interior em Madri.

A reativação deste serviço de transporte marítimo chega em “boa hora”, declarou à AFP Mohamed Ouanaya, diretor da sociedade de administração do porto de Tânger.

Em 2019, antes da pandemia, mais de 3,3 milhões de pessoas e 760.000 veículos atravessaram o estreito entre Espanha e Marrocos. “Um dos fluxos mais importantes entre continentes em tão pouco tempo”, segundo o governo espanhol.

Em pleno conflito diplomático com a Espanha, Marrocos manteve a via marítima de passageiros fechada para seu vizinho, mesmo depois da reabertura das fronteiras após a pandemia.

O conflito do Saara Ocidental, um enorme território desértico rico em fosfatos e águas repletas de pesca, opõe há décadas Marrocos e os separatistas saarauís da Frente Polisário, apoiados pela Argélia.

Rabat e Madri entraram em crise depois que o líder da Frente Polisário foi acolhido pela Espanha em abril de 2021 para receber tratamento contra a covid-19. A tensão alcançou seu auge em maio com a entrada de 10.000 migrantes em Ceuta, devido ao relaxamento dos controles do lado marroquino.

Rabat controla 80% deste território e propõe um status de autonomia sob a soberania marroquina, mas a Polisário busca um referendo de autodeterminação previsto no acordo de cessar-fogo assinado em 1991 e que nunca se concretizou.

Em 18 de março, o governo espanhol surpreendeu ao reconhecer o plano de autonomia de Rabat sobre o Saara Ocidental, o que supõe o fim da crise diplomática.

A reconciliação entre Espanha e Marrocos foi selada na última quinta-feira com a visita do presidente do governo espanhol Pedro Sánchez a Rabat, quando ambos países decidiram “iniciar uma fase inédita” em suas relações.