A direita brasileira, que instalou Michel Temer no poder por meio de um impeachment sem crime de responsabilidade, agora alimenta uma nova ilusão: a de que conseguirá trocar o governo Temer por um governo Temer sem Temer.

A equação parece simples. Agora que o fedor que emana do Jaburu se tornou insuportável, depois das gravações da JBS, troca-se Temer por um outro nome qualquer, que seja capaz de tocar as chamadas reformas. Pode ser Rodrigo Maia, Tasso Jereissati, Henrique Meirelles, qualquer um, desde que siga adiante com o desmonte da Constituição-cidadã de 1988 e com as mudanças nas leis trabalhistas e nas regras previdenciárias. A vontade popular? Bom, isso é um mero detalhe para uma elite que se provou, em 2016, despida de qualquer espírito democrático.

Acontece que, por mais alienada que seja a massa, ainda existem brasileiros e brasileiras dispostos a resistir e a lutar por seus direitos. Foi isso que ficou claro no último dia 24, quando dezenas de milhares de pessoas ocuparam Brasília. Embora o “Fora Temer” fosse um fator importante na mobilização, as pessoas não estavam ali apenas para protestar contra a corrupção sistêmica que se instalou no País e contra o assalto ao Estado promovido pelo PMDB e seus aliados. O grito de guerra era contra as reformas que a elite brasileira gostaria de ver aprovadas sem voto, numa espécie de operação choque e pavor, sem qualquer reação.

O que restou demonstrado é simplesmente elementar. Nenhum governo ilegítimo é capaz de subtrair direitos do povo numa sociedade aberta. Ainda mais, sem qualquer tipo de negociação. Temer bem tentou apelar para as Forças Armadas, mas ficou claro que o Exército não irá se aventurar a proteger um governo maculado por escândalos de corrupção e disposto a implantar uma agenda totalmente impopular. Tanto é assim que, um dia depois, o decreto que convocava as tropas foi revogado.

Todos esses fatos indicam que a “sucessão controlada” de Temer, que vem sendo costurada pelas forças tradicionais da política, também está condenada ao fracasso. Ou será que alguém imagina que, com Maia, Jereissati ou qualquer outro nome na Presidência, as reformas serão aceitas passivamente pela sociedade? A queda de Temer será também a queda das reformas de Temer – ou, pelo menos, trarão sua suspensão temporária.

A única saída racional para o problema brasileiro é devolver o poder ao povo – aliás, de onde deveria emanar o poder. Só um governo eleito – e, portanto, legítimo – terá a capacidade de encaminhar soluções para os problemas nacionais. O Brasil já sofreu demais por ter ficado dois anos privado de uma democracia plena. Ou as forças políticas se unem e devolvem a democracia ao País, ou iremos todos para o abismo.

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