A quem interessa um golpe no Brasil? A pouquíssimas pessoas. Dá para contar nos dedos e todas têm Bolsonaro no sobrenome. Uma ruptura institucional não tem apoio nem mesmo dos aliados do ex-capitão no Congresso. O presidente da Câmara, Arthur Lira, comandante do Centrão, já disse que Bolsonaro esticou a corda demais e que precisa recuar nos ataques à democracia. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que ele ajudou a eleger, deu uma lição memorável no mandatário nesta quarta-feira ao arquivar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, que simplesmente é hoje o principal guardião do regime democrático e do Estado de Direito no STF. Portanto, no Congresso, o presidente não tem a menor guarida para suas ideias tresloucadas de desestabilizar o regime democrático.

Se no Poder Legislativo o apoio para um golpe é nulo – até porque o presidente não tem nem partido e só comanda meia dúzia de gatos pingados, todos radicais imbecilizados -, no Judiciário ele tem apoio zero. À exceção do ministro Kássio Nunes, que ainda segue sua cartilha, os demais ministros têm se mostrado profundos defensores da Constituição e de inabalável resistência aos atos antidemocráticos do bolsonarismo. Portanto, o ex-capitão não terá respaldo algum entre os integrantes dessas duas instituições que formam o tripé da democracia brasileira.

E mesmo no Poder Executivo, a adesão ao projeto golpista de Bolsonaro é incipiente. A começar pelo ministro da Casa Civil, senador Ciro Nogueira, que já recomendou que o presidente se contivesse e evitasse as manifestações desestabilizadoras das instituições. À exceção de um ou outro ministro de origem militar, mas que já estão de pijama há muito tempo e não têm nenhuma liderança sobre tropas nos quartéis, a grande maioria dos 23 ministros confessa ideais de respeito ao processo democrático.

Nesse cenário, resta saber como se comportarão as Forças Armadas. Há muito tempo o presidente, que foi expulso do Exército por indisciplina e por ser um péssimo oficial, tenta envolver os militares em seu projeto amalucado de dar um golpe e se perpetuar no poder, mas até aqui nenhum integrante mais graduado do Estado Maior se manifestou favorável ao rompimento do processo democrático. Os militares têm consciência de que o regime de exceção de 1964 foi um grande equivoco e que os fardados devem se ater às suas atribuições constitucionais de velar pela segurança do País em razão de ameaças externas ou de instabilidade social, o que está longe do horizonte brasileiro. Portanto, um golpe hoje só interessa aos familiares de Bolsonaro que podem ir para a cadeia em razão dos inúmeros crimes dos quais são suspeitos de terem praticado. A começar pelo pai presidente, investigado por crimes que podem lhe render mais de 100 anos de cadeia.