Ele não é militar como o pai, mas tem agido como se fosse o comandante das tropas do presidente Jair Bolsonaro no Senado, com a mão de ferro de um general. Primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) vem atuando no Senado não apenas como líder informal do governo, mas como uma espécie de embaixador do pai presidente, viabilizando os interesses do novo modelo de poder. E a demanda número um do clã Bolsonaro atualmente é garantir a vigência de um “acordão” entre os poderes: o Senado não investiga os magistrados do STF, garantindo-lhes impunidade por eventuais deslizes éticos, e, em contrapartida, os juízes não apuram supostos crimes que o senador e sua família teriam cometido no Rio de Janeiro quando ele era deputado estadual. Nessa batalha para enterrar a CPI da Lava Toga, Flávio joga pesado, incluindo ligações telefônicas aos gritos e com palavrões, no meio da noite, para duas senadoras de seu partido. Uma delas, Selma Arruda (MT), ficou tão ofendida com os impropérios, que trocou o PSL pelo Podemos na última quarta-feira 18.

A senadora, que é ex-juíza federal, não se conformou com os berros que Flávio Bolsonaro lhe dirigiu num telefonema na noite do dia 21 de agosto. “Ele me telefonou quando soube que eu tinha assinado a CPI da Lava Toga e falou comigo num tom meio estranho. Eu me recuso a ouvir gritos, então, desliguei o telefone”, disse a senadora à ISTOÉ. Na conversa, o filho do presidente mostrava-se destemperado. “Vocês querem me foder? Vocês querem foder o governo?”, bradava Flávio. Ele tentava explicar que uma CPI para investigar o Poder Judiciário irá criar uma crise entre as instituições “trazendo instabilidade”. Na verdade, tratava apenas de cumprir sua parte no acordo de livrar a cara dos magistrados que o protegem. Ligações com o mesmo teor foram feitas para a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) e para o senador Major Olimpio (PSL-SP), líder do partido no Senado. “O Flávio gritou com a juíza Selma e com a Soraya, mas comigo ele não se atreveu. Ele sabe que comigo é diferente: bateu, levou. Mesmo assim, tentou me convencer a retirar a assinatura da CPI. Não sei do que ele tem medo, mas comigo não tem esse tipo de pressão”, disse Olimpio à ISTOÉ.

O senador ainda tentou, em vão, impedir que Selma deixasse o PSL. “Se alguém tem que deixar o partido é o Flávio. Gostaria que ele até já tivesse saído antes. Agora, sem a Selma, vamos ser eu e a Soraya num canto e o Flávio no outro. Para mim, Flávio Bolsonaro morreu”, disse Olimpio, que chegou também a pensar em deixar o partido.“Voltei atrás porque nós vamos resistir. Nós estamos certos e o Flávio errado”. Para ele, o PSL que eles representam é o partido que levantou a bandeira anticorrupção de Bolsonaro na campanha. “Nós queremos que a mesma limpeza que a Lava Jato fez no Executivo e no Legislativo seja feita com a Lava Toga no Poder Judiciário. Temos que acabar com esse negócio de que ministros do STF são semideuses e devem ficar impunes por seus eventuais crimes”, resumiu Olimpio, amigo pessoal do presidente Bolsonaro, a quem ajudou a eleger em 2018. “Nossa amizade continua. Eu, a Soraya e a Selma continuaremos apoiando o governo”.

A ação de Flávio não se limita a enterrar a CPI para garantir imunidade nas investigações sobre seus supostos crimes no Rio, em parceria com o ex-motorista Fabrício Queiroz. Ele atua nos bastidores do Senado, atende pedidos e os leva ao pai, com quem almoça ou toma café da manhã três vezes na semana. Procura ser um elo de ligação do pai com Davi Alcolumbre, presidente do Senado, com Dias Toffoli, presidente do STF, e também com Rodrigo Maia, presidente da Câmara. E, nos últimos dias, tem se empenhado também em garantir o apoio à indicação do nome de seu irmão Eduardo Bolsonaro para a Embaixada de Washington. Para isso, promoveu um jantar com vários senadores na casa do senador Lucas Barreto (PSD-AP). No convescote, o irmão mais novo defendeu suas teses a fim de carimbar o passaporte para os EUA.

Autoritarismo

Numa demonstração de que está se transformando em um dos mais ferozes defensores do pai – um tom abaixo do papel de pitbull do irmão Carlos, evidentemente – , Flávio vem chamando para si o estilo “bateu, levou” da família. Na condição de presidente do PSL do Rio, na segunda-feira 16 o senador divulgou uma nota exigindo que todos os 12 deputados estaduais do partido no Rio deixassem de apoiar o governo de Wilson Witzel, parceiro de primeira hora do bolsonarismo. É que Witzel criticou recentemente a maneira como Bolsonaro se relacionava com o Congresso. Respondendo com o fígado, Flávio disse que os deputados cariocas que não deixarem o governo de Witzel, devem sair do PSL. Certamente, esse rompimento com Witzel já faz parte da estratégia eleitoral para o ano que vem: o partido pensa em lançar candidato próprio a prefeito no Rio, possivelmente o deputado Helio Negão, amigo íntimo de Bolsonaro, isolando o governador do PSC, que também tem seu candidato. Numa única tacada, o presidente enfraqueceu também a posição do presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, escalando o filho Flávio para o trabalho de decidir quem serão os candidatos do bolsonarismo a prefeito no ano que vem nas cidades mais importantes do País: Bolsonaro quer criar uma base forte de prefeitos, pensando na reeleição em 2022, e nada melhor que seu filho seja o escolhido para, desde já, traçar as diretrizes para a manutenção da família no poder por muitos e muitos anos.

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