No domingo 22, o Brasil poderá quebrar a espera de mais de 50 anos pela Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes, o mais cultuado prêmio cinematográfico do mundo. Mas ainda que “Aquarius” não traga para casa o troféu de melhor filme, sua passagem pelo balneário francês conquistou os holofotes da imprensa mundial e colocou o Brasil nas páginas dos jornais mais importantes do mundo, incluindo a capa do inglês “The Guardian”.

Dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho e protagonizado por Sonia Braga, o filme se tornou a maior aposta dos críticos para o festival assim que a sessão de exibição foi encerrada.

O jornal “Le Monde” cravou no dia seguinte que “Aquarius” deve levar o prêmio principal. A imprensa europeia colocou quase todas as fichas em Sonia Braga como Melhor Atriz da edição. “Aquarius” compete com 20 títulos pela Palma de Ouro. Entre eles, “Paterson”, do diretor americano Jim Jarmusch, e a comédia alemã “Toni Erdmann”, de Maren Ade.

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Mas não foi só. Quebrando o protocolo rígido da premiação, a equipe do longa-metragem se postou na escadaria do Grand Théâtre Lumière para a tradicional bateria de fotos e sacou de dentro dos bolsos e bolsas cartazes com frases como “O Brasil vive um golpe de Estado” e “54.501.118 votos estão sendo queimados”, em inglês e em francês. A atitude dos artistas expôs o conflito de opiniões no Brasil sobre a presidência em exercício. Chamou a atenção do mundo e colocou gasolina no debate por aqui. A parcela da população que defende o governo de Michel Temer se ofendeu com a exposição internacional da opinião unilateral. Pelas redes sociais, apoiadores de Temer chegaram a propor um boicote ao filme na sua estreia brasileira. A turma contrária ao impeachment de Dilma Roussef ovacionou a ação dos artistas.

“Aproveitamos que Cannes tem muitas câmeras para expressar o que está acontecendo no Brasil hoje. Fiquei tocado pela repercussão no Brasil e no mundo”, disse o diretor, que é coordenador de cinema da Fundação Joaquim Nabuco, vinculada ao Ministério da Educação e Cultura do governo que ele chama de ilegítimo. O MEC, por sua vez, diz reconhecer o direito de expressão do cineasta e afirma que ainda não sabe qual será o destino do cargo que Kleber Mendonça Filho ocupa.