“Para a pequena empresa tem que ser tão fácil vender para a Argentina quanto para Belém do Pará.” - Guilherme Afif Domingos, do Sebrae
“Para a pequena empresa tem que ser tão fácil vender para a Argentina quanto para Belém do Pará.” – Guilherme Afif Domingos, do Sebrae (Crédito: Adriano Machado / AG. ISTOÉ)

Grandes custos, burocracia excessiva, problemas portuários. São dificuldades que todo exportador brasileiro passa diariamente. “As taxas de câmbio são muito altas e a dificuldade para vender para fora são enormes”, diz o jovem empresário paulista Humberto Azenha, de 31 anos, dono de uma companhia que vende pamonhas gourmets para o resto do mundo. “Já passei por casos em que fizemos tudo na data certa, mas como as estradas estavam superlotadas acabamos atrasando e perdendo o navio. É uma despesa absurda.” Um projeto que corre para ficar pronto até o fim do mês poderá facilitar a vida de Azenha e de outros 18 mil pequenos empreendedores que passam pelas dificuldades da exportação do País de forma cotidiana. Trata-se do Simples Internacional, que o presidente Michel Temer quer ver lançado durante sua primeira viagem externa, à Argentina, logo depois de aprovado o impeachment de Dilma Rousseff. “A proposta vai aumentar muito as vendas da minha empresa”, afirma o empresário do ramo alimentício. “Ela facilitará os processos e reduzirá os custos.”

BARREIRA Humberto Azenha, empresário do setor alimentício:  dificuldades para exportar
BARREIRA Humberto Azenha, empresário do setor alimentício: dificuldades para exportar

O Simples Internacional promete atuar em quatro frentes principais. A primeira será a criação do operador logístico, o que já está previsto em lei e aguarda a regularização do governo. A promessa é que isso seja feito nos próximos dias. Esse operador lidará com contêineres e embarques, prestando serviços para pequenas firmas que não têm condições de arcar com um setor exclusivo para vendas externas. A segunda frente é o uso de moedas locais para transações, sem a necessidade de conversão em dólar. Assim, as vendas do Brasil para a Argentina, por exemplo, poderiam ser efetuadas usando-se reais e pesos, diretamente. A terceira frente é a discussão de sistemas de aceitação mútua do licenciamento em aduanas. Ou seja, o estabelecimento de tratamentos iguais entre alfândegas. A última frente é a criação de uma plataforma eletrônica de negócios, que deve atuar como uma espécie de rede social empresarial, facilitando o intercâmbio entre quem compra fora do País e quem vende aqui dentro. “Criamos uma estrada de via rápida, agora os exportadores vão se encontrar nela”, diz Guilherme Afif Domingos, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que elabora o projeto ao lado do Ministério das Relações Exteriores. “Para a pequena empresa temque ser tão fácil vender para a Argentina quanto para Belém do Pará.”

Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços  * De janeiro a julho
Fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços * De janeiro a julho – CLIQUE PARA AUMENTAR

A primeira parceria pelo Simples deve ser fechada justamente com os argentinos, um mercado de 40 milhões de pessoas e Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 600 bilhões. Temer já decidiu que sua primeira viagem internacional após o afastamento definitivo de Dilma será para lá. Ele quer se encontrar com o presidente Maurício Macri já com um pacote fechado em mãos. Mas não foi fácil chegar a esse ponto. Inicialmente, o projeto precisou esperar a definição da eleição que acabaria por retirar o grupo de Cristina Kirchner do poder. Depois, foi a crise política brasileira que demandou paciência do lado de lá. Os argentinos esperavam a definição do impeachment para seguir com as tratativas. Nesse meio tempo, a pamonharia do paulista Azenha vinha crescendo cerca de 20% ao mês, com 30% do faturamento vindo das exportações, principalmente para o Reino Unido e o restante da Europa. Com o Simples, o empresário afirma que vai começar a vender para a nação vizinha também. O plano do governo é estudar como a experiência se desenvolve por lá para replicar as normas em transações com outros países. Primeiro, da África. Depois, do hemisfério norte. Os acordos serão fechados bilateralmente, caso a caso.

AVANÇO
Empresas que possuem 40 empregados ou menos e faturam até cerca de R$ 10 milhões poderão aproveitar as facilidades. No Brasil, elas são responsáveis por apenas 1% das exportações, apesar de representarem 95% dos negócios. Contudo, seu papel está crescendo. As companhias na faixa de valor mais baixo, de até US$ 1 milhão, foram as que apresentaram o segundo maior aumento das vendas externas de janeiro a julho de 2016, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Pularam de US$ 1,9 para 2,1 milhões de faturamento no setor, incremento de 8,7% (leia quadro). De acordo com Afif, do Sebrae, as medidas estarão em vigor no máximo até o fim do ano. “Para as pequenas empresas é um avanço extraordinário”, diz. “Estou percebendo grande entusiasmo nos dois lados se caírem as barreiras.”