Um elo entre mãe e filha

Um elo entre mãe e filha

Aina Pinto Foto AgNews É Maria Rita quem conta a história: ?Quando eu nasci, minha mãe falou em uma entrevista que agora tinha uma companheira de bordados e babados. E que babados!?, disse a cantora, bem-humorada, durante o show de estreia, fechado para convidados, do projeto NIVEA Viva Elis, no Vivo Rio, na segunda-feira 19. Antes do show, alguém brincava com amigos: ?Trouxeram seus lencinhos?? Havia mesmo uma emoção no ar, percebida no palco e na plateia. Maria Rita contou que até bolão de apostas fizeram para saber em que música ela choraria. Muita gente perdeu, porque não foi na primeira, ?Imagem?. Com apresentação de Regina Duarte e Gabriela Duarte, o espetáculo teve 28 músicas. Sem recorrer ao recurso do dueto virtual, Maria Rita ecoou a ?arte de sua mãe?, como ela bem definiu, num dueto afetivo. O repertório inteligentemente escolhido foi desde o ?Arrastão?, de 1965, incluindo a gravada apenas em um especial de tevê, ?Doce Pimenta?, até uma canção do último disco de estúdio, de 1980, ?Se Eu Quiser Falar com Deus? ? e foi aí que as lágrimas vieram, revelando o que já se notava em suas interpretações, em suas falas. Do figurino ?que lembravam o de Elis cantando ?Gracias a la Vida?, no Falso Brilhante ? às inflexões vocais, Maria Rita foi reverente, repetindo inclusive improvisos vocais da mãe, ao mesmo tempo em que mostrava que é uma cantora de personalidade e estilo próprios, mas sem impor limites à delicada intersecção entre uma e outra. A clara precisão técnica não escondeu a emoção das coisas. Afinal, quem já viu um show de Maria Rita sabe que palco não é lugar de pose. E quem ouve Elis sabe que música só é boa se for sincera. Então, naquele último dia de verão, vieram as ?Águas de Março?, claras, ágeis, trazendo a brincadeira que Elis fazia no final e também uma nova alegria, jovial, de cantar o clássico. A homenagem de Maria Rita deixou claro que Elis é mesmo genial. Foi o tipo de show que, depois de duas horas, dá a sensação de que poderia durar mais um pouco, porque não se fazem mais espetáculos com um repertório tão excepcional. Entre as canções, estavam as de teor político, como ?O Bêbado e a Equilibrista?. ?Ela era uma cidadã envolvida nas questões sociais, era consciente, coisa que há muito não se vê?, disse Maria Rita. Há muito não se vê, também, uma artista como Elis, tão sincera e tão inteligente, como mostrou o pequeno trecho do programa Ensaio, de 1973, exibido antes do show. Elis explicava que não eram seus discos que tinham mudado, mas ela mesma. ?Meus nervos é que descansaram?, revelava, fazendo o público conhecer ou lembrar um tempo em que a dicotomia entre vida e arte não existia. Por isso, um tributo que lhe fosse justo, além de pedir uma ótima cantora, como é o caso, pedia também que as barreiras da polidez fossem postas de lado, exatamente como aconteceu. Maria Rita expôs no show, um acontecimento artístico, sentimentos pessoais, como a saudade e o orgulho que sente da mãe. Lembrou e fez lembrar. ?Quando se é criança e se ouve essa música (?Tatuagem?), não entende direito. Depois, adolescente, tem vergonha de ouvir. Então, quando se é mulher, a gente entende, quer cantar?, revelou. Contou que ?Essa Mulher? e ?Se Eu Quiser Falar com Deus? são as músicas que mais as aproximam. Por fim, foi mesmo Maria Rita quem deu a melhor definição para um sentimento geral: ?Se ela estiver viva dentro do coração da gente, ela não se foi.? Siga Gente no Twitter!