Um predador artificial para afugentar pássaros e evitar colisões com aviões pode ser solução para reduzir o número desses incidentes no mundo, que custam à Organização Internacional da Aviação Civil cerca de US$ 1,4 bilhão por ano, entre danos às aeronaves, atrasos e cancelamento de voos. Nesse cenário, a Universidade de Groningen, na Holanda, criou o RobotFalcon: um falcão robótico para “limpar” o espaço aéreo. O equipamento semelhante a um falcão peregrino mostrou eficácia para deter corvídeos, gaivotas, estorninhos e quero-queros. Feito de fibra de vidro e polipropileno expandido, o robô tem 70 cm, controle da cauda para direção e velocidade, e câmera na cabeça, que permite a visão durante a pilotagem em solo.

Publicado em outubro último, o estudo de Groningen relatou os êxitos do falso raptor em testes feitos na cidade holandesa de Workum. Nos campos da região, o dispositivo afugentou bandos de pássaros cinco minutos após o início do voo, o que resultou em 50% da área livre em 70 segundos. “Com drone normal, demorou mais”, diz o relatório. Com os pontos positivos listados, a entidade sugere que aeroportos considerem o aparelho. “Há necessidade de novos métodos para deter as aves, e o RobotFalcon pode contribuir para preencher esse nicho”, reforça Rolf F. Storms, um dos autores do projeto.


IMITAÇÃO Protótipo se assemelha a um raptor de verdade para confundir aves menores (Crédito:VINCENT JANNINK)

A invenção tem aprovação de especialistas. No Brasil, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos registra mais de duas mil colisões de aviões e animais por ano. “Nas fases críticas do voo, pouso e decolagem, chances de choques aumentam consideravelmente”, comenta Thiago Leon, piloto da Charlie 0 Aeronautical Training Center. “O ideal é que se faça o desvio. Mas, nem sempre essa ação é viável, uma vez que, por conta da velocidade, não é possível avistar pássaros a tempo”.

O protótipo holandês segue em estudos, pois requer melhorias: não funciona na chuva e a bateria dura 15 minutos. “A busca por cargas de melhor performance é prioridade da indústria. O setor vive uma corrida do ouro”, analisa Rafael Franco, especialista em segurança cibernética e CEO da Alphacode, empresa de soluções em tecnologia.

“O robô limpou os campos de corvídeos, gaivotas, estorninhos e quero-queros com sucesso. Mais eficaz do que um drone normal” Rolf F. Storms, pesquisador do projeto

O drone falcão é um exemplo da evolução do artefato para outras funções. Em julho, um adolescente de 14 anos foi salvo de um afogamento na Espanha por um drone, que lhe jogou um salva-vidas. “Hoje, contamos com smartphones que detectam uma batida de carro e emitem um comunicado para a emergência. A tecnologia tem amparado, cada vez mais, as pessoas para uma vida segura”, exemplifica Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação.

No caso do RobotFalcon, o avanço vai além: a fauna agradece a criação de uma engenhoca que espanta, mas protege as espécies. “O afugentamento é fundamental para salvar a vida de aves. Essa inovação é válida, pois costuma ser operação crítica nos Programas de Gerenciamento dos Riscos da Fauna, que definem ações para diminuir essas ameaças”, finaliza Nilo Portero, biólogo da Universidade de Mogi das Cruzes. Todos ganham.