Um drama brasileiro à norueguesa

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Maria Ribeiro e Clarisse Abujamra Foto: Divulgação

A cineasta paulistana Laís Bodanzky, de 47 anos, é representante de uma galeria social da São Paulo de classe média alta. Ela explora como ninguém essa bolha de personagens e situações. No longa-metragem “Como Nossos Pais”, o quarto em 17 anos de carreira, ela se superou na abordagem do universo das ansiedades, dilemas e frustrações de uma mulher de 38 anos que pertence a um microcosmo familiar do bairro de Higienópolis e Jardins em São Paulo. O filme passou pelo Festival de Berlim e arrebatou seis Kikitos no Festival de Gramado deste ano, inclusive o prêmio de Melhor Filme. O sucesso da recepção crítica será testado pelo público. O fato é que “Como Nosso Pais” oferece uma experiência agradável e didática. O espectador pode sair transformado do filme. O roteiro, o primeiro assinado por Laís, estimula a reflexão sobre os papéis sociais contemporâneos.

O longa apresenta um retrato tão fiel que parece que os atores não estão representando: eles falam como se estivessem em suas casas, vivendo suas existências sossegadas. Sob a aparência moderada e palavras suaves, porém, eles ocultam conflitos que podem aflorar a qualquer instante – afloram sem violência nem exageros. O desempenho da atriz Maria Ribeiro é convincente como uma d.r. real.

A São Paulo de Laís poderia se localizar na Europa. Não há conflitos sociais, apenas os problemas íntimos. A luta pela sobrevivência não está em pauta. O que move os personagens é a busca da satisfação íntima. Nesse sentido, o novo filme de Laís poderia ser ambientado em um país nórdico, sem perda de densidade dramática. Até porque Laís se inspirou na peça “Casa de Bonecas”, de 1879, do norueguês Henrik Ibsen, para montar seu drama.

“Eu faço teatro cinematográfico”, afirma Laís, que tem experiência como diretora teatral. “Gosto de trabalhar com os atores de modo intenso. Tudo começa com a escolha do elenco. Eu procuro conhecer cada ator e ver onde ele pode realizar suas potencialidades”.

Assista ao trailer do filme

Em “Como Nossos Pais”, a protagonista, Rosa, lembra a personagem Nora, de “Casa de Bonecas”. Como Nora, Rosa (Maria Ribeiro), de 38 anos, é “bem” casada, tem filhos pequenos e tudo corre bem no dia a dia, até que ela toma consciência das convenções do casamento, das pequenas traições dos homens e da finitude humana.

É um tema vitoriano, transposto por Laís para o ambiente inquieto e perturbador do século 21. Assim, o que está no centro de “Como Nossos Pais” é a condição da mulher intelectual de família de classe média alta que é surpreendida pelos erros e contradições de sua geração – que, de certo modo, reprisam os erros e contradições de sua mãe. Quando Rosa passa a questionar a ordem suave que vive, rodeada por homens sensíveis mas totalmente insossos, as coisas começam a mudar dentro de sua cabeça e, em seguida, colocam em cheque a harmonia familiar.

“Este é o primeiro filme que fala da minha geração”, afirma Laís. “É um filme feminista, mas não no sentido Do feminismo de nossas mães e avós, que lutaram por direitos básicos. No filme, a mulher é luta para ser absolutamente livre para escolher o que quiser de sua vida.”

No cinema brasileiro enxameado de comédias grotescas, “Como Nossos Pais” traz massa cinzenta a um ambiente cultural em desalento.

“Como Nossos Pais”

Ficha técnica:

Elenco: Maria Ribeiro, Clarisse Abujamra, Paulo Vilhena, Felipe Rocha, Jorge Mautner, Herson Capri, Sophia Valverde e Annalara Prates

Direção: Laís Bodanzky

Roteiro: Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi

Direção de Fotografia: Pedro J. Márquez

Direção de Arte: Rita Faustini

Montagem: Rodrigo Menecucci

Produtores: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Debora Ivanov, Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi

Produtor Associado: José Alvarenga Jr.

Produção: Gullane e Buriti Filmes

Coprodução: Globo Filmes

Distribuição: Imovision