Há dias que devem ser lembrados, há dias que devem ser esquecidos, e há dias que sequer deveriam ter existido, mas, uma vez existentes, deverão ser lembrados para sempre, ainda que merecedores de serem esquecidos. Confuso? Explico.

Em 22 de julho de 1942, exatos 78 anos atrás, sob ordem expressa do chefe da SS nazista Heinrich Himmler, teve início o processo de deportação dos judeus confinados no gueto de Varsóvia, para o campo de extermínio de Treblinka, também na Polônia ocupada, no movimento conhecido como “limpeza total”, onde, em poucas semanas, cerca de 250 mil judeus foram assassinados em câmaras de gás.

Minha avó paterna era uma judia polonesa, que migrou para o Brasil no começo do século XX, antes do início da Segunda Guerra, quando o nazismo ainda era um terror embrionário. Veio logo após a irmã mais velha, já residente no País, ter condições de trazê-la. Ambas nunca mais viram os pais, os irmãos e demais familiares.

O nazismo dizimou mais de 6 milhões de judeus. Mais que isso, deixou cerca de outros 6 milhões órfãos, desamparados e irreparavelmente feridos para toda a vida. E a cada nova geração, um trauma que deveria ficar distante é mantido vivo, como uma ferida em “carne-viva”, que nunca se fecha ou cicatriza.

Pergunto-me, às vezes, o quanto eu e minha geração não fomos diretamente impactados pela história dos nossos avós. O quanto não desenvolvemos de temor, relacionado às perdas, que nos cega a razão e obscurece a compaixão, tornando nossas vidas reféns de um passado e de fatos que jamais existirão outra vez.

O holocausto não deve ser esquecido nunca. Deverá ser mantido vivo para que a humanidade jamais permita algo minimamente próximo, pouco importa a etnia e as “razões”. Mas talvez seja hora de os judeus, sobretudo os mais jovens, ressignificarem os fatos, tornando essa terrível história menos aterrorizadora, para que se tornem, eles próprios, seres humanos mais leves e melhores. No mínimo, menos ameaçados e ameaçadores.

Am Israel Chai.