Foi acertada a prudência com que Sergio Moro e autoridades da Polícia Federal negociaram a prisão de Lula da Silva — prisão, sim, porque rendição é palavra que só cabe a estadistas corajosos, o que não é o caso do ex-presidente que se enfurnou no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo. Lula, lá, fingia ser guerreiro, mas só fingia: exaltava-se para a multidão e, nos bastidores, negociava a salvação de sua pele. Moro e a PF preservaram a incolumidade física daqueles que se concentraram diante do “bunker” de Lula, e assim agiram bem, pois eram momentos de tensão e de delírio do ex-presidente – situação fácil para conflito entre manifestantes e polícia, justamente o que o PT queria.

Fica em nossa alma, no entanto, um estranhamento: daqui para frente, quem está condenado é que dita as condições em que poderá ser preso? É o condenado quem diz quando, como e onde ele vai ser detido? Tal estranheza se justifica porque Lula só foi preso vinte e seis horas após o prazo dado por Moro. É explicável nossa surpresa: vivemos num País em que gente desvalida e honesta, até quando é despejada, tem de sair correndo com filho no colo porque, caso contrário, trator ronca e passa por cima.

O juiz Moro agiu corretamente ao decretar a prisão na quinta-feira, 5 de abril, mas poderia tê-la mantido em sigilo. Às seis horas da manhã seguinte, Lula seria preso em casa, sem estardalhaço petista, sem missa-comício, sem o condenado comandar os passos da polícia (foi assim que a Justiça procedeu quando o levou coercitivamente para depor). Se o objetivo era evitar gente ferida, foram justamente os petistas que mandaram para o hospital um empresário com traumatismo craniano, e o mínimo que se espera é que seus agressores e os políticos para os quais trabalham sejam pronunciados por tentativa de homicídio doloso (não indiciados somente por lesão corporal). Jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos também foram agredidos, e aqui registra-se um fato emblemático: todos as entidades formadas por proprietários de meios de comunicação defenderam os seus jornalistas atacados e feridos, enquanto sindicatos da categoria, dos quais se esperavam veementes protestos, silenciaram.

Finalmente, há dois outros fatos em nosso estranhamento. O primeiro: Lula mandou dizer à PF que ele garantia a segurança dos agentes. O que é isso?

Não é ao Estado, que tem a legalidade e a legitimidade do monopólio da violência, que cabe dar tal garantia? O segundo ponto: Lula manifestou aos “companheiros” a sua insatisfação com os ministros do STF indicados pelo PT e que votaram contra o seu habas corpus. Quer dizer, então, que o partido indicou ministros na esperança de eventuais barganhas? Isso desenha, claramente, a concepção autoritária, utilitarista e totalitária que Lula tem da Justiça.

Proprietários de meios de comunicação defenderam os seus jornalistas agredidos, enquanto sindicatos da categoria silenciaram