Não deu outra, bastou que o juiz federal Bruno Apolinário decidisse pela devolução do passaporte a Luiz Inácio e logo o alarido tomou conta das redes sociais: “Lula pretende fugir!”, denunciaram alguns. “Ele vai usar uma embaixada como refúgio”, sapecaram outros. Houve até quem garantisse a existência de um acordo envolvendo FHC para livrar o líder petista da cadeia.

Pois, anotem aí, levando-se em conta apenas o aspecto político, seria ótimo que o primeiro ex-presidente condenando por crime de corrupção decidisse peitar a Justiça para escapar do xilindró. Entretanto, ainda que Luiz Inácio faça jus a toda sorte de imputações, ninguém pode acusá-lo de ser um mau estrategista.

Extrapola as raias do improvável que, após uma vida inteira cultivando o personagem do líder popular capaz de enfrentar as elites para defender os menos favorecidos, Lula recuse a chance de se eternizar na figura do mártir condenado injustamente pelos inimigos do povo.

Especialmente se levarmos em conta que terá motivos para festejar em ambas as hipóteses: se tiver de cumprir pena pelos crimes cometidos e devidamente julgados até aqui, reforçará a narrativa da perseguição política tão reverberada pela esquerda. Já se acontecer uma revisão do STF sobre as execuções de condenações após a segunda instância, aumentam as suas chances de não ser preso e ele poderá influenciar a eleição livremente.

No fundo, fugir do País, ou qualquer alternativa em igual sentido, configuraria o único cenário sem pontos positivos para Lula, o Partido dos Trabalhadores e a própria esquerda. Eles jamais deixariam de contar com o apoio irrestrito dos militantes mais ferrenhos, isso é certo, entretanto, desconectariam-se de vez do eleitor médio, atento ao assunto corrupção e disposto a festejar sempre que um político graúdo sucumbir por suas falcatruas. O mesmo eleitor, em suma, que possibilitou a dinastia petista por quase duas décadas.

A verdade é que não foi por meio de atitudes intempestivas que o PT se agigantou a ponto de conseguir institucionalizar a bandalheira financeira, ética e política. Bem ao contrário, o partido sempre primou pelo pragmatismo, até quando isso significou atropelar aliados e o próprio povo. Seria ótimo que mudassem de estratégia agora, mas não estou confiante.

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Não foi por meio de atitudes intempestivas que o PT se agigantou a ponto de institucionalizar a bandalheira financeira, ética e política


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