Domingo passado foi comemorado o aniversário da mais jovem dos Bolsonaros.

Como a imprensa divulgou amplamente o evento, não pude me furtar a uma análise mais detalhada.

Laura comemorou seus 11 anos com a presença da nata bolsonarista de 8 à 80.

A comezaina, já tradicional nas festas da primeira família, se constituiu de um churrasco, comandado pelo senhor Joas do Prado Pereira, o Tchê, velho conhecido da família Bolsonaro.

Tchê é uma das provas de que o presidente mudou muito nestes últimos anos.

Aquele homem simples, que tomava café da manhã se empapuçando de pão com leite condensado, hoje demonstra ter desenvolvido um paladar requintado.

Como tal, não se satisfaz com qualquer assado.

Foi a segunda vez, este ano, que o presidente se deliciou com cortes de picanha wagyu, cujo quilo está registrado em R$ 1.799,99 de acordo com o cardápio do chef Tchê.

A última vez que o presidente contratou os serviços do “churrasqueiro dos artistas”, outra alcunha do sr. Joas, foi em maio.

Naquela oportunidade, Tchê publicou, em suas redes sociais, uma foto da picanha wagyu ainda embalada com a marca do Frigorífico Goias e uma singela caricatura do presidente no alto do pacote à esquerda.

A foto causou dupla polêmica.

Primeiro porque a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos das Raças Wagyu informou que o Frigorífico Goiás não estava certificado para a comercialização de tal carne. Enganar sobre a qualidade da picanha servida ao presidente deveria ser crime inafiançável.

Segundo porque não é de bom tom que o presidente faça merchandising de carne de churrasco, não é verdade? Permite até que uma gente de caráter duvidoso suponha que o mandatário poderia estar ganhando um troco por fora, coisa inadmissível até para o baixo clero da política nacional.

Uma rápida pesquisa no site do Frigorífico Goias revela que a embalagem da picanha wagyu foi alterada e – apesar de, na foto, ainda não trazer nenhuma referência à certificação – também não ostenta mais a imagem do presidente para alívio geral dos caricaturistas da Nação.

Quem sabe até o próprio Tchê tenha mudado de fornecedor para a bambochata da Laurinha, isso nunca saberemos.

Essa análise orçamentária, admito, é injustiça de minha parte, ainda mais depois da inédita demonstração de sensibilidade que o presidente deu durante a Conferência Global 2021, evento organizado pela igreja Comunidade das Nações.

Em público, o presidente revelou que chora escondido no banheiro.

Segundo ele, nem mesmo a esposa Michelle sabe desta sua faceta.

Apesar da contundente e humana revelação, o presidente não revelou as razões.

Apesar da fraquejada, foi a segunda vez esse ano que o presidente se deliciou com cortes de picanha wagyu, cujo quilo custa R$ 1.799,99

Apenas informou que o choro não se refere a sua virilidade, visto que a primeira dama o considera “o machão dos machões”.

Também não tem origem na pandemia, para a qual admitiu que fez uma boa gestão.

Considerando que o presidente nunca se manifestou a respeito da inflação estar fugindo ao controle do governo, também não deve ser esse o motivo.

Assim como não tem a ver, dado seu silêncio, ao fato do ministro da economia e o presidente do Banco Central se embaraçarem ao explicar que possuem offshores com contas em paraísos fiscais.

Nada sugere, também, que o choro presidencial esteja relacionado aos dados publicados pelo jornal Folha de São Paulo indicando que 20 milhões de brasileiros declaram passar 24 horas ou mais sem comer.

Resta suspeitar, pois, que a sobredose de emoção presidencial talvez tenha a ver com a proximidade da comemoração do aniversário de sua caçula.

Afinal, picanha a R$ 1.800, é de fazer chorar até o mais viril dos brasileiros.