Nos últimos tempos, o presidente Bolsonaro veio lançando uma lorota – mais uma – de que precisava, a todo custo, liberar a bolada de R$ 2 bilhões aos partidos, a título de fundo eleitoral, pois, do contrário, caso vetasse a destinação desses recursos, correria o risco de sofrer um impeachment. Nada mais enganoso. O capitão joga para a torcida e faz uso de um recorrente artifício de seu governo, as fake news, para ficar de bem com aliados e apoiadores. O movimento tem razões de ser. O mandatário vem sendo diariamente pressionado por manifestantes da própria base a ir contra a distribuição de dinheirama eleitoreira. Também a sua turba rechaça as benesses com verba pública.

Acredita ser vergonhoso o esquema. Mas Bolsonaro tem interesse direto nisso. Está em vias de criar a própria sigla, Aliança pelo Brasil. Necessita vitalmente de simpatizantes e dos quadros políticos. Precisa ficar de boa com a casta parlamentar. Em suma, não vai se furtar ao usufruto dessa importante arma para azeitar o sistema e se dar bem. É do jogo. O problema é que ele se faz de rogado. Culpa o Legislativo pela gastança fora de hora. Alega que está encurralado. Adota o jogo de cena. Bolsonaro tem um desafio importante pela frente. A campanha que definirá o novo quadro de poderes municipais pode influenciar diretamente na composição de seu governo. O mandatário quer estender o arco de aliança e de influência para outras camadas da população. Mira a baixa renda e precisa de prefeitos, vereadores e demais políticos locais para alcançar o objetivo.

A versão Bolsonaro na carapuça, digamos, mais popular vem sendo construída. O presidente estabeleceu como prioridade a capitalização de votos na base da pirâmide social, por meio de medidas com apelo nas classes “C”, “D” e “E”. Anseia fazer frente à atuação do PT e, em especial, a do demiurgo de Garanhuns, o Lula de volta às ruas, e está disposto a torrar mundos e fundos – mesmo aqueles dos quais não dispõe — para o intento. Precisa combinar com os russos e, fundamentalmente, com a equipe econômica do czar Paulo Guedes, que tem se empenhado em conter despesas e passou a tesoura nos excessos.

O passo escolhido por Bolsonaro para dar início a sua cruzada populista será o de uma reforma no programa mais bem-sucedido e reluzente do período petista, o Bolsa Família. Bolsonaro almeja ampliá-lo. Quer lhe propiciar nova roupagem, com maiores atrativos. Imagina passar dessa forma a imagem de um chefe de nação benevolente. Caudilhos como Hugo Chaves, da Venezuela, seguiram o mesmo roteiro e acabou por legar a herança que hoje todos conhecem: um país em frangalhos, quebrado, em caos. Por aqui, o capitão tem planos mirabolantes e caros. Vai conceder um bônus fixo a famílias necessitadas, equivalente a um 13º do programa, que deve provocar uma conta adicional de R$ 7 bilhões no orçamento do ano. Para proteger os cofres públicos da derrama, quer usar receitas do petróleo e do combate a fraudes no INSS. De um modo ou de outro, está fazendo caridade com o chapéu alheio.

Perdido em seus sonhos de garantia da cadeira do Planalto por mais um mandato, Bolsonaro abriu a carteira. Chegou a cogitar um desconto na conta de energia de templos religiosos. Foi convencido a voltar atrás. Não desistiu ainda de aumentos generosos ao funcionalismo público, mesmo diante da perspectiva de uma reforma administrativa que o ministro Guedes luta para implementar. Ele emite sinais trocados. Altera ao bel prazer e de acordo com as suas conveniências a escala de medidas vitais que deveria tomar como governante. O Bolsonaro que busca votos e dinheiro para causas pessoais é o maior inimigo do Bolsonaro presidente. E, por tabela, do País.

 

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