Candidato de Jair Bolsonaro à presidência da Câmara, Arthur Lira é alvo no Supremo Tribunal Federal (STF) de ações sob suspeitas que vão desde associação criminosa à corrupção passiva e ativa. Recentemente, foi alvo de uma denúncia pela Procuradoria Geral da República (PGR) pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro por participação em um esquema conhecido da família Bolsonaro, o das rachadinhas, quando era deputado estadual em Alagoas. De acordo com a PGR, a denúncia é referente ao período em que Arthur Lira era deputado estadual e exerceu cargo de direção na Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de Alagoas (2003 a 2006). O esquema em que Lira é acusado segue os moldes que foram implementados pelo senador Flávio Bolsonaro, quando atuava na Assembleia Fluminense. Como o caso não tem relação com o mandato de deputado federal, foi remetido para a primeira instância da Justiça, que arquivou o processo sumariamente. O ex-chefe de gabinete de Lira envolvido nos desvios trabalha atualmente no gabinete do deputado em Brasília.

Esse arquivamento não livra o líder do Centrão. O MP promete recorrer, mas nem Lira, nem seus apoiadores parecem preocupados. Segundo a denúncia, o esquema de desvios de recursos da Assembleia de Alagoas durou de 2001 a 2007 e teria movimentado R$ 12,4 milhões apenas entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005. Lira, sozinho, teria recebido de interlocutores mais de R$ 1 milhão pelo esquema. A defesa, claro, nega as denúncias. O deputado também rechaçou a acusação, e seguiu suas articulações pela candidatura à Câmara sem demonstrar abalos.

Ao saber do arquivamento da denúncia, Lira se manifestou da forma que os colegas defensores de sua candidatura esperavam: com um tom de serenidade, mas sem deixar um aviso nas entrelinhas: “A vida do homem público é um livro aberto e quem está nela precisa ter serenidade. Nada como um dia depois do outro”, publicou o deputado em uma rede social, assim que a denúncia foi arquivada. Para quem acompanha os meandros do Congresso, a denúncia recente contra Lira não foi surpresa. Nem para a situação, nem para a oposição. Esse é um dos motivos pelos quais aliados do governo apostam que o passar dos dias vai amenizar a fumaça levantada pelo MP. Bolsonaro, que chegou a cogitar entre aliados um plano B em substituição a Lira, logo desistiu da ideia. Lira saiu do pós-denúncia, ao que tudo indica, ainda mais fortalecido — e com as bênçãos de Bolsonaro. O PP o garantiu como o candidato único da legenda na disputa, enterrando até mesmo uma possível articulação de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que é próximo a Maia e tentava construir sua candidatura na esteira do relatório da Reforma Tributária, que está sob sua elaboração. Lira, contudo, cruzou por cima.

Líder do Centrão, Arthur Lira foi um dos soldados mais próximos do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. É um dos mais ligados a Boisonaro

Nas últimas semanas, o candidato do governo tem investido forte junto ao setor empresarial e tem mantido reuniões com nomes fortes da Faria Lima, que detém boa parte do PIB brasileiro. Diante de um cenário em que as questões tributárias não encontram eco no Congresso para avançar neste ano, Lira semeia sua candidatura como o nome próximo do governo, defensor de uma política liberal e capaz de garantir os votos dos congressistas em suas mãos. Ele aposta que o apoio do presidente vai ofuscar os processos que responde.

Ele chega a essa disputa depois de uma longa jornada. Antes mesmo de o STF rejeitar a possibilidade de Rodrigo Maia e de Davi Alcolumbre disputarem a reeleição, ele já trabalhava forte nos bastidores em busca de apoio para sentar na cadeira mais importante da Câmara. Típico político à moda antiga, construiu sua trajetória política desde o berço: é filho do ex-senador Benedito de Lira (PP-AL). Foi um dos soldados mais próximos do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha, responsável por começar a execução política da ex-presidente Dilma Rousseff. Manteve o Centrão vivo em meio ao enterro político de Cunha e deu o bote na hora em que Bolsonaro descobriu que suas loucuras, sozinhas, não o levariam muito longe. Desde então, Lira tornou-se um dos políticos mais próximos do mandatário.

Discreto, evita a imprensa. Em seu terceiro mandato consecutivo na Câmara dos Deputados, é descrito pelos aliados como um fiel cumpridor de acordos. Não deixa seus apoiadores na mão, mas também não é do tipo que tolera traição. Por essas e outras, virou o líder do Centrão. E, como bom integrante do grupo fisiológico, enfrenta problemas na Justiça.

Passado nebuloso
Acusações contra Arthur Lira envolvem associação criminosa e corrupção passiva e ativa. A maior parte tramita no STF

Rachadinha

Apesar de ter o Tribunal de Justiça de Alagoas ter absolvido sumariamente o deputado das acusações de que ele teria chefiado um esquema de rachadinhas, o Ministério Público afirmou que irá recorrer

Lava Jato
Em junho deste ano, a PGR denunciou Arthur Lira pelo crime de corrupção passiva. Investigações apontaram que ele teria recebido R$ 1,6 milhão em propina da empreiteira Queiroz Galvão. Em setembro, contudo, a PGR pediu que o STF rejeite a denúncia

Quadrilhão do PP
Lira é réu por organização criminosa por suposta participação em esquema de desvios que causou prejuízo de
R$ 29 bilhões à Petrobras. A denúncia foi feita em 2019 ao STF

CBTU
A PGR acusa Lira de ter recebido propina de R$ 106 mil do então presidente da CBTU (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos) Francisco Colombo, que buscava apoio para se manter no cargo. Os repasses teriam ocorrido em 2012