O site UOL publicou trechos da entrevista do ex-jogador Adriano ao TPT – The Players Tribune, site esportivo mundial do grupo israelense de tecnologia Minute Media, que atua também no Brasil.

Ao falar sobre as razões que o fizeram desistir do futebol, Adriano citou uma grave lesão no tornozelo (2011) e a morte do pai: “O que aconteceu é simples; tenho um buraco no tornozelo e outro na alma”.

Poucas vezes me deparei com uma frase tão profunda. Há anos eu não lia ou ouvia algo que me impactasse tanto. Adriano simplesmente revelou o lado sombrio que nos aflige e do qual tentamos fugir.

As dores físicas são suportáveis. Cicatrizes e até mesmo sequelas severas são uma espécie de arranhões com os quais conseguimos lidar. As dores da alma, porém, são bem mais complicadas.

A perda de um ente verdadeiramente querido é, de fato, como muito bem definiu o Imperador, um buraco que se abre na alma de quem ficou. Uma dor insuportável e constante, que não cede nem passa.

Como Adriano, tenho dois buracos. Um na panturrilha, também fruto de uma lesão dos tempos de futebolista; dos bons. O da alma foi aberto não faz muito e já sei da cura impossível que me espera.

Dores d’alma são feridas em carne-viva que nunca cicatrizam. Às vezes doem um pouco mais, às vezes doem um pouco menos, mas o incômodo estará sempre lá, à espreita, pronto para atacar com tudo.

Quem sofre de doenças como depressão, síndrome do pânico, ansiedade extrema e outras “dores da alma”, compreende bem o sentido das palavras do ex-craque da seleção brasileira e do Flamengo.

Muitos de nós, infelizmente, não conseguem bater de frente com os demônios das emoções e os pensamentos nocivos. Por isso tanta gente recorre a álcool, drogas e alienação diante de uma dura realidade.

O genial Frejat, em sua maravilhosa canção Amor Pra Recomeçar, ensina: “E que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero”. Eis aí. Quem não conhece gente que ri de tudo por desespero?

Enfrentar os dramas – dignos do nome – que surgem na vida de todos nós é tarefa árdua, sim, mas extremamente necessária. E é preciso muito preparo, emocional e intelectual, e uma dose cavalar de coragem.

Alienar-se, recorrer a substâncias químicas ou mesmo transformar a própria vida num ringue de MMA para fugir da dor profunda não irá surtir efeito algum, além de machucar pessoas próximas e queridas.

Falar é fácil, eu sei. Agir e tomar as rédeas das mãos dos fantasmas são outros quinhentos. Mas é preciso tentar! É preciso fazer como o Adriano e ao menos falar a respeito e reconhecer a existência da dor.

Com 54 anos de idade, depois de décadas vivendo sob as sombras de ansiedade e agonia injustificadas, posso dizer que enfrentei as minhas feras e as venci. Já as feridas abertas, hehe, sem chance!, são grandes e profundas demais.