Certo dia de março de 2021, final de tarde, Palácio do Planalto.

O presidente joga a cadeira para trás e apoia os pés sobre a mesa. Está feliz com o resultado das últimas pesquisas que mostram uma aprovação de 61%.

– Dona Lilian, pede dois cloroshakes, um para mim e outro para o deputado aqui.

Em sua mesa, a secretária liga para a cozinha.

– Silas, o homem quer dois cloroshakes.

Silas prepara o pedido do presidente numa bandeja de prata e se apressa em servir o mandatário.

Entra na sala justo quando o deputado [cujo nome não foi revelado] reclama: —… não vai passar presidente… dois mil de ajuda emergencial? Não passa…

– Não tem essa de passar ou não passar, [nome não revelado]. Eu sou o presidente! Mando ou não mando nessa [impublicável]?!

Silas serve os dois cloroshakes sem perder a atenção na conversa.

– Eu sei… mas é muito dinheiro. E se for aprovado, de onde vai sair essa dinheirama dessa vez?

– Isso é com o Paulo. Ele é liberal. Você não entende de Economia. Quem é liberal, libera, tá ok?

O presidente dá um longo gole no cloroshake [oito comprimidos de cloroquina batidos com leite condensado e sorvete de creme], olha para o copo e para o garçom:

– [impublicável], como é bom isso aqui! Tá ótimo amigão. Brigado. Pode ir, tá esperando o que?

Silas sai da sala e corre para os jardins do palácio onde pode ligar para o ministro sem levantar suspeitas:

– Dr. Paulo? Sou eu. Então… o senhor pediu para avisar. Acabei de sair da sala do presidente. Agora ele quer que a ajuda emergencial passe para dois mil reais… isso, dois mil.

E ele disse que o senhor arrumava o dinheiro… Ô Dr. Paulo, não fala assim comigo… eu só… alô? alô?

Em seu gabinete, o ministro aos gritos e palavras chulas, chutando as cadeiras, chama a secretária.

– Maaaarcia!!! [impublicável] Vem cá!

A secretária revira os olhos, acostumada com o chilique mensal do chefe.

– Agora o [impublicável] quer dois mil reais! Ele acha que eu tiro dinheiro do [impublicável]?! Me chama aqui o pessoal do Banco Central!

Marcia concorda com um gesto solicito de cabeça. Sai da sala e liga para Nilce.

– Nilce? Marcia. O homem quer o pessoal todo aqui.

Isso. Urgente, tá?

Duas horas depois, estão todos reunidos na sala do ministro quando Silas entra na sala para servir 19 cafés.

O presidente do Banco Central está com a palavra.

– Mas ministro… de novo? E agora dois mil? Não tem jeito. Só fabricando mais dinheiro.

– Então fabrica, [impublicável]. Eu não quero saber se o pato é macho, eu quero é ovo, rapaz! Ou vai lá e explica que não dá, porque eu já tomei uns 10 litros de cloroshake explicando e ele não consegue entender.

Silas sai da sala, corre para o jardim e liga para o editor de um conhecido jornal.

– Isso. Dois mil. Já tá decidido. Vão fabricar mais dinheiro. Certeza. Acabei de sair da sala do Dr. Paulo.

No dia seguinte, o jornal estampa na capa:

“Presidente envia para o Congresso projeto que aumenta a ajuda emergencial para R$ 2 mil por mês”.

O Congresso aprova e na mesma semana, uma pesquisa de opinião pública mostra que a popularidade do presidente sobe para 74%.

Em sua sala, o presidente reúne a equipe, orgulhoso, ostentando o jornal que destaca seu recorde histórico de popularidade.

– Chamei vocês aqui para dar os parabéns. Tá aqui ó! – mostra o jornal – é o povo reconhecendo o nosso trabalho. Parabéns especialmente para o Paulo, que montou o programa Money for All. Mês que vem, três mil, tá ok, Paulão?
O ministro concorda resignado.

Todos aplaudem, o presidente ergue um brinde.

– 2022 é nóis, tá ok?!

Todos erguem seus cloroshakes e brindam felizes.

Para ser reeleito em 2022 é só aumentar a ajuda emergencial. O Guedes que se vire para arrumar o dinheiro