O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) cobiçou, e talvez ainda cobice, o cargo de embaixador brasileiro em Washington. Não bastasse todo o rolo do uso de verba partidária em que ele parece estar metido, uma história revelada hoje mostra como é absurda a ideia de que ele possa um dia ocupar esse posto. 

Segundo disse o deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (PTB-SP) em uma ação judicial, Eduardo encaminhou à Embaixada dos Estados Unidos um dossiê com cerca de mil nomes de supostos militantes de esquerda com pendores “terroristas”.

Não se trata de um documento oficial, mas de um papelório compilado informalmente pelo próprio Garcia. Ele foi processado por uma das pessoas que incluiu no dossiê e, na semana passada, condenado a pagar uma indenização de R$ 20 mil. O juiz não encontrou no material do deputado nenhuma prova de comportamento violento ou criminoso da autora da ação – ou de qualquer outra das pessoas listadas. 

Garcia afirmou durante o processo que Eduardo entregou o calhamaço aos americanos. Aparentemente, a intenção era dificultar que os delatados obtivessem vistos para os Estados Unidos. Foi o que insinuou Garcia em uma postagem nas redes sociais: ele disse, em tom de chacota, que as pessoas da  sua lista negra teriam dificuldades em “viajar para a Disneylândia”. Como se fosse uma molecagem. 

Não é uma molecagem. Depois de receber um dossiê de um aliado, Eduardo Bolsonaro quis induzir um país estrangeiro a punir brasileiros dos quais discorda ideologicamente. Para isso, ele os apresentou como gente verdadeiramente perigosa, embora não tivesse nenhum dado concreto para tanto. Nenhuma investigação da polícia. Nenhuma sentença judicial.

Que um político que se julga apto a ser embaixador aja dessa maneira é francamente espantoso. Trata-se de alguém que pretende representar o Brasil entre estrangeiros. Alguém que teria entre suas tarefas prestar socorro a brasileiros em apuros no exterior. Isso não combina com bater na porta de um outro país para acusar concidadãos, sem ter provas, de serem terroristas.  

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Na verdade, o comportamento de Eduardo Bolsonaro (e de Douglas Garcia) não  combina sequer com o cargo de deputado. Ele usou a projeção do mandato para realizar um ato covarde contra pessoas comuns. Poucos casos exigiriam de forma tão evidente um processo de quebra de decoro parlamentar. 

Esses processos nunca dão em nada, porque o corporativismo fala alto no Congresso. Mas que haja para Sua Excelência ao menos o incômodo de se defender. O bolsonarismo – a começar pelo político que lhe deu nome – ainda precisa aprender que quem exerce um cargo público com leviandade e mesquinhez desonra o mandato.


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