A estreia “Sinfonia nº 3 em Mi bemol Maior Opus 55”, do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827), apelidada de Sinfonia Eroica, em italiano, teve duas estreias, em em Viena. A primeira se deu no palácio vienense do príncipe Joseph Franz Maximilian Lobkowitz em junho de 1804, a cargo de uma orquestra de 18 músicos contrata pelo nobre mecenas de Beethoven. A segunda aconteceu no Theater an de Wien em 7 de abril de 1805, com um contingente de 40 músicos, como atuavam as grandes orquestras clássicas da época. Essas performances foram celebradas na época e arrancaram críticas positivas, devido à instrumentação, harmonia e ritmos extraordinários.

Entre hoje e dia 11, em vários teatro de São Paulo, o Conjunto de Câmara da USP, com 40 integrantes, se propõe a mostrar como a obra soou na época em que estreou, tanto a versão do palácio como a do teatro. “Beethoven Colérico” é o título da série de concertos, regida pelo maestro William Coelho (maestro titular do coro da Osesp), com direção artística da clarinetista Mônica Lucas.

Composta entre meados de 1803 e 1805, a composição é repleta de fúria e atmosfera revolucionária. Não por outro motivo, Beethoven dedicou-a a Napoleão Bonaparte, que considerava a encarnação da democracia antimonárquica. Depois, ele se arrependeu e trocou a dedicatória para o nada democrático Lobkowitz.

“Vamos estrear a versão historicamente informada da obra na América Latina”, diz Coelho. “Na prática, é uma versão diferente de tudo o que o público ouviu até hoje.”

Os músicos contam com a reação espantada por parte do público, como aconteceu em 2018, com a execução “para instrumentos de época” da “Quinta Sinfonia”, de Beethoven. No ano que vem, o projeto será a “Sinfonia nº 9, Coral”,a ser executada também em setembro, em versão da época.

“Quanto à ‘Eroica’, as pessoas vão achar que a música soa desafinada, rápida, sincopada, além de mais colorida, por causa da afinação, da articulação e da instrumentação que usamos, que resulta de pesquisas dos hábitos de execução da época”, diz Coelho.

O maestro está concluindo seu Doutorado em Musicologia na USP sobre a “Eroica” e explica que, em 200 anos de execuções e em cem de gravações, a sinfonia sofreu adaptações e modernizações. “Por isso, sabemos que o público irá perguntar por que nós fizemos tudo errado. E vamos responder: por que era assim.”