Durante a re:Invent 2024, conferência anual da AWS que ocorreu em Las Vegas na semana passada, tive a oportunidade de conversar com Cleber Morais, diretor-geral da empresa no Brasil. No bate-papo, Cleber falou sobre o atual cenário das migrações para a nuvem, detalhou as etapas de migração debatidas com os clientes e falou também sobre o futuro desse mercado. Para o executivo, as decisões sobre a migração devem sempre levar em conta os benefícios para os clientes e para o negócio da empresa: “Não trabalhamos com o direcionamento de migrar simplesmente por migrar”, afirma. Leia a seguir a entrevista.

Sobre as migrações para cloud, algumas grandes empresas ainda têm muitas estruturas legadas, mas que funcionam do jeito que estão. E nesses casos pode haver resistência dos clientes no processo de migração. Como são as conversas nesses casos?

Quando falamos em migração, existem alguns tipos de clientes. Existe o cliente que já é nativo digital e usa essa tecnologia como diferencial competitivo. Já outros clientes perceberam que precisam passar por um processo de transformação digital, principalmente para ter mais agilidade em levar produtos ao mercado.

Um bate-papo sobre nuvem com Cleber Morais, da AWS
Morais, da AWS: “Migrar por migrar não é a solução” (Crédito:Divulgação)

Para esses clientes, muitas vezes o que vemos é que aplicações novas já são criadas na nuvem, ou seja, já têm o diferencial da agilidade. Isso permite que a empresa capacite sua equipe e já entenda como aproveitar o melhor da nuvem. 

No momento seguinte, já começamos a olhar toda a infraestrutura de TI e identificar aquelas aplicações que podem ser migradas de maneira mais simples e com poucas modificações, de uma forma lift-and-shift. 

Na última etapa é identificar aplicações que realmente precisam ser migradas, mesmo que deem mais trabalho. Isso ocorre em casos de aplicações que não recebem mais atualizações, ou que tenham linguagens mais antigas e difíceis de encontrar profissionais capacitados, como aquelas de mainframes. 

Mas o ponto fundamental é avaliar se todo esse processo gera valor para o cliente. Não trabalhamos com o direcionamento de migrar simplesmente por migrar. Se você tem uma aplicação estática, para uso interno da empresa, sem impacto para o cliente, faz sentido mudar? Não. Agora, tenho uma aplicação que precisa de mais segurança, melhor usabilidade e que vai ter impacto para o negócio. Nesse caso, a nuvem é um diferencial.

E aí chegamos a outro ponto fundamental. O ambiente de nuvem é mais seguro do que o ambiente on-premises. Do ponto de vista da sustentabilidade, de acordo com estudo recente da Accenture, o ambiente de nuvem da AWS é 4,1 vezes mais eficiente energeticamente do que um ambiente on-premise.

A AWS foi pioneira ao entrar no mercado de nuvem, inclusive no Brasil. Atualmente, no entanto, há fortes concorrentes com ofertas semelhantes. Quais os diferenciais que a AWS leva ao mercado na hora de abordar seus clientes?

Gostamos de falar que não existe algoritmo de compressão para experiência. E isso se reflete no sucesso da empresa em setores como o financeiro, onde temos como clientes tanto bancos digitais (C6, Nubank, Inter) como bancos tradicionais (Itaú, BTG e outros).

No caso de startups, investimos fortemente não só em créditos para uso da plataforma, mas também na capacitação do mercado. E, pelo fato de termos sido pioneiros no Brasil, grande parte dos profissionais que trabalham com nuvem já conhece nossas ferramentas. E isso é um grande diferencial a nosso favor.

E, conectando tudo isso, tem o aspecto da cultura. Há no mercado uma grande variedade de soluções, de diversos fornecedores. Mas procuramos nos diferenciar por sermos parceiros dos clientes também na estratégia de negócio. 

Como exemplo, temos ferramentas de medição para avaliar se o cliente está usando a nuvem de forma efetiva. Para aqueles que estão abaixo do nível desejado, entregamos um relatório apontando onde pode haver redução de custos.

Alguns clientes até estranham essa abordagem. Mas é um caso de retroalimentação positiva. Quanto mais o cliente usa a nuvem de forma efetiva, mais ele utiliza nossos serviços, e todos crescem juntos.

Sabemos que o controle de custos na nuvem funciona de forma bem diferente do que ocorre em ambientes locais (on-premise). Como a AWS atua para educar os clientes sobre essas diferenças e evitar que eles sejam pegos de surpresa com as contas?

Temos um acompanhamento constante do uso da nuvem. Quando identificamos um pico de uso de uma aplicação, entramos em contato com o cliente para saber se isso realmente era algo previsto, parte de algum teste, ou se era inesperado. 

Trabalhamos ainda com centenas de parceiros que ajudam clientes com práticas de FinOps, e oferecemos uma grande variedade de processadores que permitem rodar aplicações com melhor custo/benefício. Além disso, repassamos aos clientes as reduções de custos que temos, com a evolução natural da tecnologia e ganhos de escala. 

Os processos de migração para a nuvem já ocorrem há mais de dez anos. Qual é sua avaliação para o futuro? Ainda há espaço para mais migrações?

Ainda há muito pela frente. Atualmente, segundo estudos de mercado, apenas 20% do total de dados armazenados no mundo estão na nuvem. Ou seja, mesmo se apenas 40% desses dados forem migrados, já é o dobro do que temos agora.

E nisso há dois aspectos. Um deles é o processo natural de migração para a nuvem. O outro é o surgimento de novas tecnologias como IA generativa, que aceleram esse processo. E tudo isso gera um potencial de mercado enorme.