Até um ano atrás, passar os domingos na Avenida Paulista não era uma opção de lazer cogitada pela estudante de Psicologia Luísa Carla Alves de Vasconcelos, de 18 anos. “Não tinha muito interesse”, explica a moradora do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, que passou a frequentar a via por causa de um evento que completou um ano em abril: o Samba-Rock na Paulista, mistura de aula e baile, que ocorre no segundo domingo do mês, na frente da Fundação Cásper Líbero.

Praticante de samba-rock desde os 15 anos, a jovem tinha dificuldade de encontrar lugares para dançar enquanto ainda era menor de idade. Na primeira vez que foi no samba da Paulista, ela “chegou toda tímida”, mas logo se viu dançando com muitos desconhecidos. “Você conhece gente, cria vínculos”, diz.

Patrimônio imaterial da cidade São Paulo desde novembro, o samba-rock faz parte da vida do professor de dança Newman Gregório há 15 dos seus 45 anos. Habituado a dar aulas em locais públicos, teve a ideia de reunir dançarinos mensalmente no metrô, utilizando apenas um rádio que “cabia na palma da mão”. No terceiro encontro, foi expulso da estação, tendo de se apresentar na Praça da República, no centro, na qual teve seu maior público até então.

Depois disso, em abril, veio a ideia de ir à Paulista, na qual, na estreia, ampliou de 30 para 150 participantes. “É uma forma de mostrar a nossa cultura. O samba-rock é de todos os paulistas, assim como o frevo é de Pernambuco e o axé é da Bahia.”

O evento começa por volta das 14 horas, com uma aula de dança e, depois, segue até as 18 horas, com um baile ao ar livre ao som de um DJ convidado. A preocupação do professor começa, contudo, no sábado, no qual nem consegue dormir de ansiedade. Por volta das 10h30 de domingo, já sai de casa, no Butantã, zona oeste, para organizar tudo. “No primeiro, eu achei que não apareceria ninguém. Fico assustado com a proporção que tomou. Hoje, eu falo que, se acontecer algo comigo, eles têm de continuar”, diz Gregorio, que confidencia a vontade de realizar edições semanais, em pontos diversos, como o Minhocão e o Ibirapuera.

O maior impedimento por enquanto são os custos, pagos quase exclusivamente por ele. “O evento foi melhorando aos poucos, com a compra de equipamentos e a adesão de mais pessoas. Acho que a gente fez muito em um ano. Temos ciência de que algumas pessoas podem torcer o nariz, mas não vamos deixar de fazer por causa disso”, comenta.

Dia das Mães

A maior parte do público do evento tem entre 25 e 40 anos, mas há também crianças e idosos, como a aposentada Maria do Carmo, de 69 anos, conhecida como Rose, que fez questão de ir na edição de ontem mesmo sendo Dia das Mães. “Samba-rock é a minha terapia. Gosto de chegar cedo e sair tarde, para abrir e fechar o salão”, relata a moradora do Grajaú, na zona sul.

Também aposentada, Ondina Bozzuto, de 67 anos, conheceu o Samba na Paulista por acaso, após ir à avenida com a filha, Priscila Alves, de 45 anos. “Dei uma paradinha para olhar e gostei do clima. Dancei só uma porque o cavalheiro não sabia direito. Vamos ver como vai ser o próximo”, brinca ela, que vive no Ipiranga, na zona sul.

Assim como ela, a professora de danças urbanas Magda Alves, de 26 anos, foi passear na Paulista com a família, que reside na Vila Penteado, zona norte da capital. Iniciada no samba-rock pelo pai, Rogério, de 50 anos, dançou a tarde toda com a mãe e as irmãs Marcele, de 17, e Maiara, de 21. “A gente tem isso no sangue. E é bonito vir aqui e ver essa junção de pessoas na rua. O samba-rock tem muito da periferia, da negritude de São Paulo, e aqui ele pode ser experimentado por todo mundo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.