Benedito Ruy Barbosa

Um dos dramaturgos mais importantes do País, Benedito Ruy Barbosa, 85 anos, contabiliza mais de meio século como autor de novelas, sem contar o início da carreira, dedicado ao teatro. Filho de pai jornalista e tipógrafo, ele começou ainda menino sua amizade com as letras — sem saber que estava optando por uma carreira e um destino. “Eu compunha as matérias que meu pai escrevia para o jornal ‘A Voz de Vera Cruz’, fundado por ele. Na tipografia eu aprendi a ler”, revela. Um dia, o pai abriu caixas de livros que comprara para revender e orientou o garoto: “Leia tudo. Faz de conta que são seus.” Hoje, Barbosa relembra a história, agradecido: “Ele não sabe o bem que me fez. Acho que ali nasceu o escritor, o novelista, o roteirista de cinema, de teatro. Tudo.” Alguns dos maiores sucessos da televisão brasileira passaram por suas mãos. A primeira ficção que assinou foi “Somos Todos Irmãos”, na extinta TV Tupi. Desde então, escreveu 34 folhetins, que somam mais de 200 mil páginas: “Eu me sinto muito realizado”, afirma.

Em uma novela sobre sua vida, a cidade de São Paulo mereceria vários capítulos. Nascido em Gália, interior do Estado, foi na capital que ele se fez. “Cheguei com 17 anos, trabalhei montando barraca de feira, lavei chão do Banco Português do Brasil por 30 mil rés por dia, tentei a sorte como vendedor pracista (uma espécie de mascate), fui auxiliar de escrevente de escritório, me fiz contador, fui chefe de contabilidade de uma empresa, fui auditor do Banco de Boston e fui revisor do jornal ‘O Estado de São Paulo’”, enumera, orgulhoso.

Mas o melhor lugar do mundo, para ele, é o sítio, em Sorocaba, cercado de verde, terra, água, bichos. “Ali, escrevi muitas novelas: ‘Renascer’, ‘O Rei do Gado’, ‘Terra Nostra’…”. A paixão por regiões rurais, presente em muitas de suas obras, vem de experiências vividas na infância. “Colhi algodão, tirei muito leite de vaca, toquei berrante, cortei arroz”. Mais tarde, o gosto pelo campo se tornou destino de viagens. “Em minhas férias, eu não ia para a Europa ou para os Estados Unidos. Eu ia conhecer Goiás, Pantanal, Curitiba, o interior de São Paulo”.

O Pantanal Matogrossense serviu de inspiração para a novela homônima, exibida pela extinta TV Manchete e considerada um marco da teledramaturgia brasileira. Seu último trabalho, também outro enorme sucesso, foi “Velho Chico”, da Rede Globo, que abordou histórias vividas em um universo agrário como metáfora das históricas injustiças sociais brasileiras. A próxima novela, que segundo ele será sua despedida, já tem título: “O Último Beijo”. “Estou com 85 anos. Já era pra ter parado, mas vou te falar, se eu parar de escrever, morro. A novela me faz acordar 5h30 todo dia. Estou acostumado com essa vida. É maravilhoso. Me comovo escrevendo, lendo as coisas que vão acontecer. Não gosto de escrever algo no qual não acredito. Quando me comovo, até com lágrimas nos olhos, sei que o público também se comoverá.”

“Quando me comovo, até com lágrimas nos olhos, sei que o público também se comoverá”

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