A noção de que o desempenho na economia é determinante para a reeleição de um presidente americano anda corroída pelas circunstâncias. Suspeito de pressionar o governo ucraniano a investigar seu rival democrata Joe Biden, como forma de prejudicá-lo nas próximas eleições, o presidente Donald Trump se prepara para enfrentar um processo de impeachment, o que deve tornar seu último ano na Casa Branca o período mais delicado de seu mandato. Ainda que escape de um afastamento, já que seu partido, o Republicano, possui maioria no Senado — os democratas dominam a Câmara —, suas pretensões estão comprometidas e será árduo reconquistar o eleitorado até o pleito marcado para novembro de 2020.

Nem a eliminação do líder do Estado Islâmico Abu Bakr al-Baghdadi melhorou seu desempenho nas pesquisas. Trump estava 12 pontos percentuais atrás de Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, em pesquisa da Fox News, divulgada na semana passada. Pela NBC-Wall Street Journal, a diferença foi de nove pontos. Contra os outros pré-candidatos democratas, os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, a distância variou entre cinco e oito pontos. Parece pouco, mas no cenário bipartidário dos EUA essa diferença é preocupante. O desempenho da economia deveria ter cativado o eleitor, já que o país acumula 120 meses de crescimento contínuo, desde a crise de 2008. Com a taxa de desemprego em menos de 4%, hoje há mais gente empregada que antes da recessão.

DISPUTA O desempenho de Trump nas pesquisas é fraco e, se a eleição fosse hoje, ele perderia para Joe Biden, Bernie Sanders ou Elizabeth Warren (acima) (Crédito:Win McNamee/Getty Images/AFP)

O problema estaria nas expectativas criadas por Trump. A recuperação é lenta, não atinge os 4% prometidos (3,1% no primeiro semestre) e os salários estão mais baixos para profissionais de classes média e baixa, algo que programas de estímulo fiscal, redução de impostos, protecionismo contra produtos chineses e ações do Fed (o banco central deles) não conseguem contornar.

Eleitores Desiludidos

Um fator, porém, permanece fora dessa equação. Animal político em estado bruto e personalidade midiática tarimbada, Trump gosta de ser desafiado e deve entrar de corpo e alma na disputa. Nos três debates agendados, ele pode reduzir a distância de seus adversários. Outro ponto é o sistema eleitoral americano, que permite a vitória de quem obteve menos votos, desde que o candidato vença nos principais colégios eleitorais. Aos democratas, o caminho seria manter a vantagem enquanto atraem os desiludidos que não votaram nos principais estados no último pleito. Entre as bandeiras da oposição estariam a guinada nas políticas públicas sobre raça, gênero, acesso à saúde e educação superior. É justamente aí que Trump derrapa e, se quiser virar o jogo, terá um caminho árduo pela frente.

 

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