Em meio aos mais de 4 milhões de contaminados pelo novo coronavírus, e chegando próximo dos 150 mil mortos por Covid-19, o Brasil celebra (?) seu centésimo nonagésimo oitavo ano como nação independente.

Eu disse nação? Eu disse independente? Sorry. Erro meu.

Lendo agora, num lindo fim de tarde nas Gerais, as notícias do dia, me peguei refletindo sobre o velho axioma: quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha?

Afinal, temos o país que merecemos ou merecemos o país que temos?

1 – Lula critica Bolsonaro em entrevista coletiva no diretório do PT

O líder do maior esquema de corrupção já descoberto no mundo, corrupto e lavador de dinheiro condenado a quase 30 anos de prisão, presidiário provisoriamente em liberdade graças aos afilhados políticos aboletados no STF, o ex-presidente criticou – com absoluta razão, diga-se – a conduta genocida de Jair Bolsonaro frente ao combate da pandemia do novo coronavírus. Além disso, o chefe de quadrilha (segundo palavras do MPF) criticou o governo, as políticas econômica e externa, e se colocou à disposição do povo e dos mais pobres. Resta saber se para roubar mais.

2 – A deputada Flordelis emprega em seu gabinete o filho do qual deveria se manter afastada

A mandante do assassinato do próprio marido, em plena liberdade graças à excrescência do foro privilegiado, cuja existência é garantida por Rodrigo Maia, presidente da Câmara sentado há mais de dois anos sobre um Projeto de Lei que pede o fim dessa nojeira, emprega um dos filhos, com salário superior a 15 mil reais, pagos por mim e por você, leitor otário (como eu!), em seu gabinete parlamentar, mesmo tendo a Justiça determinado o afastamento entre ambos. Ou seja: a moça manda matar; não é presa por ser deputada; é obrigada a não manter contato com o filhote; mantém o pimpolho trabalhando no próprio gabinete; e vida que segue.

3 – Praias, praças, parques e bares ficam lotados neste sete de setembro

Pandemia? Que pandemia? Coronavírus? Que diabo é isso? O feriado prolongado levou milhões de brasileiros à ruas, praças, parques e praias por todo o País. A Índia ultrapassou, hoje, o Brasil em número de casos. Ruma para nos ultrapassar também em número de mortes. Sem levar em consideração, é claro, que sua população é seis vezes maior que a nossa. Daí, os brasucas resolveram mostrar que “brasileiro não desiste nunca”. Sem medo de ser feliz – e de morrer – a tigrada ligou de vez o “foda-se” e se jogou. Enfiou o pé na jaca. Lotou praias e calçadões; ruas e bares; parques e praças. Como bem disse o mito da Bolsolândia: “um dia todo mundo vai pegar esse vírus”. A vovó vai morrer? Morreu, ué. O pai diabético vai morrer? Um dia todos morrem. Médicos, enfermeiros e profissionais da saúde vão morrer? Coisas da vida. O importante é ser feliz. Aqui e agora. E colocar os indianos novamente no terceiro lugar. É nóis!

4 – Congresso concede perdão de 1 bilhão de reais em dívidas das igrejas

Como é bom viver num país rico, não é verdade? Como é bom viver num país onde nada falta e tudo abunda. Onde hospitais, escolas e tudo aquilo que o Estado provém é de ótima qualidade. Como é bom viver num país onde os impostos são baixos e incrivelmente bem geridos. O Brasil ganhou sozinho na mega sena mundial, acumulada há dois séculos, e eu não sabia. Afinal, nossos zelosos deputados acabam de perdoar os bilionários padres, pastores e afins, de suas dívidas, igualmente bilionárias, com a União, leia-se povo brasileiro. Enquanto o Posto Ipiranga pede a volta da CPMF, o Congresso obriga os pobres a custear jatinhos, mansões, templos, catedrais, redes de rádio e TV. Em nome de Jesus, é claro.

5 – Michelle Bolsonaro é chamada de “mita” por apoiadores

O dia em que Dilma Rousseff conclamou o País a exterminar as “mosquitas” da dengue, já que “elas que põem os ovos”, descobri que a língua portuguesa, outrora culta e bela, aceitava tudo. Saber que os bolsominions chamaram a primeira-dama, também conhecida por Micheque, de mita, não me causou surpresa alguma. Apenas a certeza que “nada está tão ruim que não possa piorar”. Por falar nisso: e o Queiroz, hein, Gilmar Mendes?

6 – Jair Bolsonaro causa aglomeração e desfila de carro, sem máscara, ao lado de crianças

Não seria notícia, muito menos, manchete. Afinal, isso não é mais novidade alguma. Porém, dessa vez, até para os padrões genocidas bolsonarianos, a cena é chocante: o irresponsável, que ocupa a presidência da República, surgiu, ao lado de crianças, sem máscara. E as crianças também! Esqueçam que isso é crime; e é. Esqueçam que isso é um péssimo exemplo; e é. Esqueçam que é um desrespeito aos doentes e mortos; e é. A questão é muito mais séria e diz respeito a quem deveria, por óbvio e por lei, zelar pela segurança e saúde dos pequeninos: os pais destas crianças, que deveriam ser processados por colocá-las em risco. Que espécie de gente é essa, meu Deus do céu? Submeter os próprios filhos à tese idiota do presidente: “tem que enfrentar o vírus como homem”. Que o Ministério Público faça sua parte e apresente a estes irresponsáveis um negócio chamado ECA (estatuto da criança e do adolescente).

Falem a verdade: o que raios há para comemorar diante de um 7 de Setembro assim? O Brasil realmente não é para amadores. Não mesmo.