O partido espanhol de extrema direita Vox entrou neste domingo com força no Parlamento regional da Andaluzia, em eleições onde os partidos conservadores quebraram pela primeira vez a hegemonia local do socialismo, o que representa um golpe para o chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez.

Superando todas as expectativas, que lhe davam um máximo de cinco dos 109 deputados na câmara regional, o Vox conquistou 12 cadeiras e 11% dos votos, segundo a apuração quase total das cédulas.

Esta é a primeira vez que um partido de extrema direita entra em um parlamento regional na Espanha desde a morte de Franco, em 1975.

“O Vox triunfa na Andaluzia! Doze cadeiras e o fim do regime socialista”, publicou no Twitter o partido, nascido no fim de 2013, que fez campanha contra os separatistas catalães, a imigração ilegal e o feminismo.

“Vínhamos dizendo que esta noite faríamos história”, comemorou o líder da lista do Vox na Andaluzia, Francisco Serrano. “Chegamos para ficar!”, afirmou para apoiadores em Sevilha, entre gritos de “Espanha, Espanha!”.

“Os andaluzes voltaram a fazer história e sacudiram 36 anos de regime socialista”, proclamou Santiago Abascal, líder nacional do Vox, que recebeu felicitações da líder da extrema direita francesa Marine Le Pen.

Pela primeira vez desde a criação da autonomia andaluz, a direita conquista a maioria parlamentar na região mais povoada da Espanha, 59 cadeiras, somando as do Vox e dos partidos Popular (26 deputados) e Cidadãos (21).

O PP, com seu líder regional Juanma Moreno, reivindicou o comando do próximo governo andaluz, e seu presidente nacional, Pablo Casado, pediu a antecipação das eleições legislativas na Espanha. “Que Pedro Sánchez vá pensando em convocar eleições”, disse Casado.

“O sanchismo hoje sai abalado, mas temos que acabar de afundá-lo nas urnas”, disse, pouco antes, o líder do Cidadãos, Albert Rivera.

Caso se forme uma coalizão conservadora de governo na Andaluzia, o PSOE perderá o poder em seu maior celeiro de votos em nível nacional, a poucos meses das eleições municipais, regionais e europeias de maio de 2019, e das eleições legislativas gerais do ano que vem.

O resultado destas eleições também representa um golpe para o socialista Pedro Sánchez, que, desde junho, dirige o governo mais minoritário em 40 anos de democracia na Espanha, com 84 dos 350 deputados na câmara baixa.

– ‘Uma noite triste para os socialistas’ –

A atual presidente e candidata à reeleição, Susana Díaz, obteve para o Partido Socialista o pior resultado histórico (33 deputados) na região, que governa desde 1982. Com a esquerda radical do Podemos (17 deputados), o PSOE não chega à maioria na câmara.

Susana disse que “esta é uma noite triste para os socialistas”, e prometeu ser “um dique de contenção da extrema direita na Andaluzia, para que isto não se reproduza nos demais processos eleitorais que iremos enfrentar”.

“Alerta antifascista, cabe uma mobilização para defender as liberdades, a justiça social, a fraternidade e, em última instância, a democracia”, proclamou em Madri o líder do Podemos, Pablo Iglesias.

Susana Díaz apelou para a estabilidade durante a campanha eleitoral, e destacou a necessidad de se seguir desenvolvendo os serviços sociais. O desemprego na região, de 8,5 milhões de habitantes, permanece em nível muito elevado, de quase 23%, frente à média nacional, de 14,5%.

A este problema crônico se somou o tema da corrupção, no momento em que acontece em Sevilha o julgamento de 22 ex-dirigentes socialistas andaluzes, entre eles os ex-presidentes regionais Manuel Chaves e José Antonio Griñán, pelo suposto manejo fraudulento de um fundo público de 854 milhões de euros entre 2000 e 2011.