Centenas de milhares de pessoas voltaram a protestar nesta quinta-feira (13) na França contra a impopular reforma da Previdência do presidente liberal Emmanuel Macron, em uma última tentativa de fazer pressão um dia antes da decisão crucial do Conselho Constitucional.

“Se o Conselho aprovar o projeto, continuaremos nos manifestando e sairemos de novo às ruas”, declarou Tamara Aslamov, universitária de 18 anos, sob a garoa, em frente à Ópera de Paris.

Os nove “sábios” do Tribunal Constitucional devem se pronunciar na sexta-feira sobre a validade da reforma e sobre um pedido de referendo a respeito da idade da aposentadoria, solicitado pela oposição de esquerda.

Enquanto isso, a tensão é evidente. Ao passar em frente à sede do Conselho, manifestantes dispararam projéteis contra agentes antichoque, que responderam com gás lacrimogêneo.

As autoridades proibiram qualquer manifestação em frente à sede da instituição próxima ao Museu do Louvre a partir da noite desta quinta-feira e mobilizaram um forte dispositivo de segurança.

Os sindicatos e a maioria dos franceses, de acordo com as pesquisas, querem que o governo volte atrás em sua reforma, que pretende aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e antecipar para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos, e não 42 como atualmente, para o direito a uma aposentadoria completa.

Após meses de manifestações maciças, o conflito social está arraigado, e a relação entre Macron e os líderes sindicais ficou tensa nas últimas semanas.

O líder do sindicato moderado da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Laurent Berger, alertou antes do início da marcha em Paris que a luta “está longe de terminar”.

No dia 7 de março, a mobilização chegou a registrar em torno de 1,28 milhão de manifestantes, segundo a polícia, e 3,5 milhões, para o sindicato CGT, mas as autoridades esperam entre 400 mil e 600 mil nesta quinta-feira, no 12º dia de protestos.

A greve em setores-chave, como transporte e energia, também é mais restrita, embora os coletores de lixo de Paris estejam planejando retomar a paralisação, depois que uma greve anterior de três semanas deixou até 10.000 toneladas de lixo empilhadas nas ruas.

Durante a manhã, cerca de 400 manifestantes invadiram por minutos a sede parisiense da gigante do luxo LVMH com sinalizadores e assovios, gritando “a rua é nossa”.

-“Não acredito em democracia”-

Além da reforma que deve entrar em vigor nos próximos meses, o presidente de 45 anos deseja ter condições de aplicar seu programa durante seu segundo mandato até 2027.

Símbolo da importância que lhe atribui, Macron decidiu em 16 de março impor sua reforma por decreto, temendo perder a votação no Parlamento onde não tem maioria absoluta. Esse movimento levou a uma radicalização dos protestos.

Macron se nega a recuar e, na quarta-feira em Amsterdã, anunciou que iria propor uma reunião com os atores sociais para ver como “avançar”, independentemente da decisão do Conselho Constitucional.

Ante a proposta do presidente, a líder da central sindical CGT, Sophie Binet, declarou que “tinha vontade de dizer: ‘Que piada'”.

Os sindicatos alertaram que a imposição da reforma provocou uma “crise democrática” e beneficiou a extrema direita de Marine Le Pen, que sobe nas pesquisas.

“Sempre votei, mas já não sei se vou votar mais, porque não acredito mais na democracia”, admitiu durante a manifestação Judith Roubertoux, de 48 anos, funcionária de um estabelecimento médico-social.

– À espera do Conselho Constitucional –

Neste contexto, a decisão do Conselho Constitucional definirá os próximos passos.

Observadores esperam que partes da reforma sejam anuladas, mas não sua totalidade, além da aprovação para o referendo.

Esta última decisão poderia abrir uma nova etapa da mobilização, já que seu primeiro desafio seria arrecadar as 4,8 milhões de assinaturas necessárias para sua realização.

Entre as hipóteses estudadas por sindicatos, também estão manifestações em 1º de maio, incluindo a convocação de uma marcha gigante em Paris.

A França é um dos países europeus onde a idade de aposentadoria é mais baixa, sem que os regimes sejam completamente comparáveis. O governo assegura que sua reforma busca evitar um futuro déficit no fundo de pensões.

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