Sábado, como você sabe, é noite de UFC.
E hoje, para o main event of the evening, temos um encontro histórico.
O octógono foi montado num hotel em Las Vegas.
Noite de gala. Intensa vibração.
As celebridades desfilam para câmeras de todo o mundo.
As luzes se apagam.
Sobe a trilha de Rock, Um Lutador.
Aquela de quando ele está no alto das escadas, de moletom.
De um túnel que dá para a platéia, sob um manto vermelho e azul, o ídolo americano caminha por um longo corredor, dando high five para os fãs.
Quando revela seu físico, surgem os cabelos cor-de-laranja.
É ele.
A Lenda.
Donald Trump.
Histeria coletiva.
Surge o adversário.
Uma gravação apoteótica de uma marcha tocada pela Banda dos Fuzileiros Navais.
O Mito.
Vaia terrível.
Bolsonaro não esconde o rosto.
Ambos sobem no octógono, Bruce Buffer faz as apresentações:
– …and NOW!! IIIIIIIITTTTT’S TIIIIIME! The moment you’ve all been looking for! On the blue corner… – e por aí vai.
Os juiz chama os dois para o centro e dá as últimas instruções.
– Senhores, por favor, nada de palavras de baixo calão ou ofensas pessoais.
Não tocam as luvas.
Não se cumprimentam nem se olham.
Cada um recebe seu microfone. O confronto* vai começar.
Trump assume uma posição de ataque e dispara o primeiro golpe:
– O aborto tem que ter alguma punição para a mulher! Alguma forma de punição! — grita ao microfone.
Que golpe.
A plateia vai ao delírio.
Trump começa devastador.
Bolsonaro recebe a violência do golpe com uma certa surpresa.
Circula o adversário.
Pensa. Estuda. Calcula. E dispara:
– E mulher deve ganhar salário menor porque engravida!
A plateia silencia. Não consegue sequer vaiar.
Reconhecem a potência do gancho de direita.
(Alias, os dois só dão golpes de direita)
Mas Trump assimila o impacto, muda a estratégia e ataca:
– O conceito de aquecimento global é uma farsa. Foi criado pelos chineses para tornar a indústria americana menos competitiva!
Não foi um golpe de efeito, mas a plateia exagera na vibração para intimidar o adversário.
Bolsonaro revida:
– Prefiro que um filho meu morra num acidente do que me apareça com um bigodudo.
Trump desaba.
Mas foi golpe abaixo da linha da cintura, sinaliza o juiz e avisa que na próxima tira um ponto do brasileiro.
Trump contra-ataca na mesma moeda:
– Se Hillary não consegue satisfazer nem o próprio marido, que dirá a América!
É ovacionado.
Trump derruba Bolsonaro e parte para a montada.
Tenta a finalização.
Mas o brasileiro não se entrega.
Alcança o microfone e rebate:
– Não te estupro porque você não merece! Não te estupro porque você não merece!
Vaia ensurdecedora.
Não acreditam na capacidade de recuperação de Bolsonaro.
Em pé, o Mito deixa Trump acuado num canto.
Soa o gongo.
Cada um vai para seu corner.
Os comentaristas são unânimes: primeiro round empatado.
A plateia vem a loucura, pois sabe a importância do confronto.
Essa não é apenas uma luta qualquer.
O vencedor de hoje ganha o direito de lutar pelo cinturão.
Um cinturão que não muda de mãos há mais de 12 anos.
E ele, o Campeão, o Chefe, está ali, na primeira fila.
As câmeras mostram seu meio sorriso de desdém.
O sorriso, de quem sabe que nenhum dos dois é páreo para ele.
Soa o gongo.


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