O secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, quer discutir com o novo ministro da pasta, Ricardo Barros, a questão da fosfoetanolamina, substância que ficou popularmente conhecida como “pílula do câncer”, apesar de não haver provas científicas de sua eficácia.

Em entrevista, Uip chamou de “absurdo” que São Paulo venha sendo alvo de mandados de busca e apreensão da substância ainda em pó. “Nem encapsulamos ainda, é material produzido somente para pesquisa, e tem juiz expedindo mandado de busca e apreensão de 250 gramas do pó. Não sei o que uma pessoa vai fazer com 250 gramas de um produto que ainda nem foi testado”, disse.

Barros, que tomou posse na quinta-feira, 12, na gestão em exercício de Michel Temer, estará em São Paulo hoje em visita à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e ao Hospital das Clínicas. Uip participa do encontro.

O secretário disse que tem uma “porção bem grande de assuntos para tratar com o ministro”, entre eles a fosfoetanolamina. Na sexta-feira, em sua primeira entrevista coletiva à imprensa, Barros falou de “fé” ao ser questionado sobre a lei que liberou o uso da substância. “Pessoalmente, na pior das hipóteses, tem efeito placebo. A fé move montanhas”, disse.

Polêmica

O composto, formulado em um laboratório do Instituto de Química da USP em São Carlos no final dos anos 1980, foi por mais de duas décadas distribuído gratuitamente à população. Em 2014, uma portaria suspendeu a entrega da substância, uma vez que ela não tinham registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Pacientes começaram a ir à Justiça e conseguiram liminares para manter o tratamento. Os boatos chegaram à internet e houve uma avalanche de pedidos no segundo semestre de 2015.

Após meses de polêmica, uma lei foi aprovada rapidamente em março na Câmara e no Senado e recebeu, em abril, sanção da presidente Dilma Rousseff. Paralelamente, São Paulo iniciou os procedimentos para testar o produto. Um laboratório em Cravinhos está produzindo a substância para 70 mil cápsulas que vão ser usadas para pesquisa. Uip já tinha declarado que esse material seria exclusivamente para os estudos, mas está sendo alvo de novas ações.

Sobre a declaração de Barros, Uip disse: “Ele estava tomando posse. Vai depender da nossa ajuda de mostrar como vai a pesquisa básica e depois a clínica. Seguramente ele vai esperar ter todos os dados de São Paulo antes de ter uma posição mais definitiva sobre a questão”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.