Os líderes dos países membros da União Europeia encerraram nesta sexta-feira (22) uma cúpula em Bruxelas marcada pelo aprofundamento das propostas contra a Rússia e pelo endurecimento do tom em relação à situação crítica em Gaza.

Na véspera, os países do bloco concordaram sobre uma proposta para utilizar rendimentos de ativos russos congelados – que ainda precisará ser implementada -, e nesta sexta, a UE anunciou um plano para implementar tarifas “proibitivas” para as importações de cereais russos.

As duas iniciativas provocaram reações imediatas de Moscou.

A proposta lançada nesta sexta pelo comissário europeu do Comércio, Valdis Dombrovskis, busca tornar as importações de cereais e oleaginosas procedentes da Rússia “comercialmente inviáveis”.

Ao ser questionado sobre a proposta, o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, disse que “os consumidores na Europa vão definitivamente sofrer”.

“Este é outro claro exemplo de concorrência desleal”, acrescentou.

Quanto à utilização dos lucros gerados pelos ativos russos congelados, Peskov afirmou que tal cenário apresentará “graves consequências para aqueles que definiram [essas medidas] e para aqueles que as implementam”.

No encerramento da cúpula, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, descartou categoricamente que a UE esteja preocupada com possíveis medidas por parte da Rússia.

“Não nos sentimos intimidados pela Rússia e é por isso que estamos tomando decisões em apoio à Ucrânia”, afirmou.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que a UE avançou com a ideia de utilizar ativos russos para Kiev “porque é o correto”.

“A Rússia tem que pagar pelo que está fazendo na Ucrânia”, disse Von der Leyen, acrescentando que as possíveis medidas adotadas por Moscou “não têm influência nas nossas decisões”.

Segundo fontes da Comissão Europeia, a Rússia exportou 4,2 milhões de toneladas de cereais, oleaginosas e produtos derivados para a UE em 2023, no valor de 1,3 bilhão de euros (1,4 bilhão de dólares, 6,9 bilhões de reais).

– Catástrofe em Gaza –

A cúpula também elevou o tom do bloco em relação à situação na Faixa de Gaza, devastada por uma ofensiva israelense contra o grupo islamista palestino Hamas.

No encerramento do encontro, os países da UE declararam estar “horrorizados com a perda sem precedentes de vidas civis e com a situação humanitária crítica” e exigiram uma “pausa humanitária imediata que leve a um cessar-fogo sustentável, à libertação incondicional de reféns, e ao fornecimento de ajuda humanitária” em Gaza.

Os líderes europeus também apontaram para uma “situação humanitária catastrófica” que tem “efeitos desproporcionais sobre os civis, especialmente as crianças” do território palestino.

Fizeram ainda um apelo ao governo israelense para que não realizasse uma ofensiva militar terrestre contra Rafah, no sul de Gaza, onde cerca de um milhão e meio de deslocados estão aglomerados, o que “agravaria a já catastrófica situação humanitária” e impediria “a prestação urgente de serviços básicos e assistência humanitária”.

Nesta sexta, Espanha, Irlanda, Malta e Eslovênia divulgaram um comunicado conjunto expressando sua disposição em reconhecer um Estado palestino.

Os líderes dos quatro países afirmaram em nota que este passo será dado quando o gesto tiver “contribuição positiva” e “as circunstâncias forem adequadas”.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que os quatro países querem dar este passo juntos, acrescentando que teriam “que calibrar bem quando chegará a hora” de realizá-lo.

Já o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que continuará em favor de um apelo do Conselho de Segurança da ONU para o fim das hostilidades.

“O Conselho de Segurança deve fazer um apelo por um cessar-fogo imediato e ao acesso humanitário”, disse ele ao fim da cúpula em Bruxelas.

Rússia e China vetaram, nesta sexta, a resolução proposta pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança das Nações Unidas para um cessar-fogo “imediato” em Gaza, ao considerar o texto “hipócrita” e “ambíguo”, que não pede diretamente o silenciamento das armas.

O projeto de resolução dos EUA, que sublinha a “necessidade de um cessar-fogo imediato e duradouro” vinculado à libertação dos reféns, recebeu 11 votos a favor, três contra (Rússia, China e Argélia) e uma abstenção (Guiana).

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