BRUXELAS, 27 JAN (ANSA) – A discussão que se tornou pública entre a União Europeia e a farmacêutica AstraZeneca sobre a entrega das vacinas anti-Covid ganhou novos contornos nesta quarta-feira (27) – horas antes das duas partes sentarem para uma reunião.
Fontes europeias afirmam que o bloco contestou as declarações públicas do CEO da empresa, Pascal Soriot, de que seriam entregues menos imunizantes do que o programado por uma certa demora dos europeus em firmarem o contrato, e pediu que a cláusula de segredo sobre o contrato fosse retirada.
Em particular, há o questionamento sobre a AstraZeneca limitar toda a produção para os países do bloco em uma única fábrica na Bélgica, que produziria ainda doses para o Reino Unido.
A irritação dos países da UE ainda vem do fato de que eles cobram que colocaram dinheiro no desenvolvimento da vacina contra o coronavírus Sars-CoV-2.
“Com a AstraZeneca, nós assumimos os riscos de investimento, financiando com o dinheiro dos contribuintes europeus. [Por isso] a empresa deve fazer o ‘melhor esforço possível’ e produzir para nós”, disse uma das fontes, ironizando a frase de Soriot, à ANSA. Segundo o representante, o bloco investiu 336 milhões de euros na produção – mesmo que algumas dessas parcelas só serão pagas de acordo com a produção.
Após uma reunião interna, a comissária para a Saúde, Stella Kyriakides, afirmou que os “desenvolvedores das vacinas têm obrigações morais e contratuais”.
“E o ‘máximo esforço possível’ não é aceitável, nem correto. Nós assinamos um contrato de pré-compra para fazer sim que eles produzissem determinados volumes de vacinas antes da autorização da EMA [Agência Europeia de Medicamentos]. Rejeitamos a lógica de ‘quem chega antes’ porque não há cláusula de prioridade no contrato que assinamos”, acrescentou Kyriakides.
Os dois lados estão realizando diversas reuniões sobre o assunto e os europeus estão irritados com a postura da farmacêutica. O acordo com a AstraZeneca prevê a compra de 300 milhões de doses da vacina AZD 1222, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, com a opção de adquirir mais 100 milhões após comprovação da eficácia.
É esperado que até o fim dessa semana, a EMA autorize o uso emergencial da vacina em todos os países do bloco, por isso a pressa em ajustar os detalhes das entregas. Até o momento, a UE tem disponíveis duas vacinas: a da Pfizer/BioNTech e a da Moderna.
A AZD 1222 já está sendo usada em diversos países, como o Reino Unido, a Índia e o Brasil, além de ter autorização para uso emergencial em diversas nações pelo mundo. (ANSA).